quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Arbitrando a arbitragem: uma teoria económica do erro arbitral...

Para levar muito a sério (embora com um sorriso nos lábios). Que os árbitros do futebol errem é natural mas que não queiram ser avaliados pelos seus erros é surpreendente. A reacção dos árbitros à utilização dos meios televisivos para os avaliar parece assentar no princípio de que uma vez que eles não dispõem de meios televisivos para decidir estes não podem ser utilizados para os avaliar. Por esta ordem de razões, qualquer avaliação só será legítima se quem avaliar estiver nas mesmas condições que quem é avaliado. Ora isto é confundir avaliação com comparação entre quem avalia e quem é avaliado.
Em matéria de avaliação ou tentamos reproduzir as condições subjectivas em que o erro se produziu (incluindo, procurando assumir o ponto de vista do "avaliado") ou fazemos uma apreciação puramente objectiva e distanciada do acto. Seja o que for o que guia o acto de avaliação (e, normalmente, é um pouco de ambas as coisas) quanto maior e melhor a informação que tiver o avaliador melhor o julgamento que pode fazer do avaliado (neste caso, o árbitro). O objectivo não é comparar o que o avaliador faria, com os meios de que dispõe, com o que fez o árbitro mas utilizar os meios superiores disponíveis ao avaliador para perceber melhor que erros fez o árbitro e poder, igualmente, comparar melhor os árbitros.
Há, no entanto, um argumento aparentemente convincente na argumentação dos árbitros: como os meios televisivos não existem em todos os jogos haveria discriminação na avaliação a que estariam sujeitos (uns sendo avaliados pela televisão e outros apenas no estádio). Este argumento sofre de dois vícios lógicos. O primeiro é que a discriminação só poderia existir se alguns árbitros tivessem sempre os jogos transmitidos por televisão e outros nunca. Uma vez que, no entanto, o número de jogos televisionados é muito grande ao longo de uma época e que os vários árbitros acabam televisionados em vários destes jogos, não existe um verdadeiro tratamento diferenciado (desde que a média de jogos televisionados por árbitro seja idêntica ao longo de um ano, as condições de avaliação serão as mesmas para todos no final da época). A segunda razão pela qual a avaliação televisiva não discrimina (mesmo se alguns árbitros forem mais "televisionados" que outros) é que ela tanto pode servir para identificar um erro do árbitro como para corrigir um erro anterior do avaliador no estádio (e, neste caso, favorecer o árbitro). A avaliação por televisão apenas fornece mais informação mas esta tanto pode desfavorecer como favorecer o árbitro que é sujeito à mesma. É verdade que podemos defender que quem avalia apenas no estádio tende a ser mais favorável ao árbitro mas tal não é seguro e não me parece que seja isso o que tem acontecido com as avaliações.
O argumento da igualdade de tratamento recordou-me, no entanto, uma tese que tenho à algum tempo sobre a avaliação dos árbitros. Mais importante que o erro na arbitragem é a garantia de critérios coerentes e uniformes dos árbitros. Se o erro não pode ser eliminado, já a aplicação de critérios iguais a todos os clubes pode e deve ser garantida e é a única coisa capaz de acabar com um clima de suspeição na arbitragem. Baseado num episódio (numa área bem diferente) retratado no livro Freakeconomics, proponho que a liga (ou a sua comissão de arbitragem) façam o seguinte estudo estatístico relativo a cada árbitro:
1 – O número de penalties, faltas e cartões assinalados em média por um determinado árbitro.
2 – Comparar esse número de penalties, faltas e cartões assinalados em média com o número médio assinalado, respectivamente a cada equipa, por esse árbitro.
3 – Onde houvesse elevada disparidade, ou seja onde se detectasse que esse árbitro assinalava um número relativamente mais elevado de faltas, penalties ou cartões a favor ou contra uma equipa do que a sua média normal, comparar o número com a média assinalada pelos outros árbitros relativamente à mesma equipa.
4 - É ainda possível, para ulterior segurança, cruzar isto com mais dados (como os referentes à média de faltas, penalties e cartões assinaldos contra ou favor das equipas que jogaram contra a equipa que estamos a ter em conta).
Este modelo estatístico relativamente simples permitiria identificar riscos de tratamento "diferenciado" por parte de certos árbitros (a controlar depois por uma avaliação qualitativa). Desta forma, os erros já não seriam apenas erros mas indiciariam uma "abordagem" diferente. Não nos iria garantir uma arbitragem sem erros mas garantiria seguramente uma arbitragem mais coerente e menos riscos de discriminação entre clubes.

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