Prós e Contras
Confesso que me interessa menos o caso específico da "pequena Esmeralda", do que as razões inconscientes, de base biológica, que levam as pessoas a formar um juizo ou emitir opinião. No debate televisivo, quase todos, de forma insana, evocavam o supremo interesse da criança, que uma vez "criada" no meio de uma família adoptiva, estabeleceria ligações afectivas de uma força identica á de uma criança que cresce com os seus pais biológicos, e cuja rotura levaria a traumas emocionais irrreversiveis. Que fazer então com uma criança raptada, que vive durante 10 anos com a família do raptor a quem chama mãe e pai, uma vez descoberta e identificada a família "verdadeira"?. Absurda a comparação, dir-se-ia, porque evidentemente existe uma diferença fundamental entre a legitimidade de uma família adoptante, quando uma criança lhe é ENTREGUE, de outra raptada. A violência exercida sobre uma família a quem roubam um filho é inenarrável e justifica a "devolução" da criança. Mas será que essa violência se exerce apenas sobre os pais, não será também uma violência em relação a alguem, não crescer entre os "seus", isto é, a memória de tios e avós, um passado cultural e de valores transmitidos por AQUELA família entre gerações? Será por isso, por esse vinculo genético-comportamental, que tantas crianças criadas em famílias "ideais", procuram em desespero mães prostitutas, pais indiferentes, mas que são os "SEUS"? de onde vim, indica em parte para onde irei, a resposta qunto ao futuro encontra-se no passado, e no fundo do nosso ser, queremos saber qual foi.
3 comentários:
Caro Nuno,
Não tenho dúvida que, da perspectiva da criança, ser afastada da família a quem foi entregue ou da família que a raptou, no pressuposto que, por ambas era bem cuidada, o sofrimento é exactamente o mesmo.
Num Estado de Direito democrático, respeitador das liberdades e da dignidade dos seus cidadãos, os direitos de uns e outros têm se ser ponderados e conciliados, às vezes, onde fraca conciliação é possível.
Isto dito, a diferente solução para a situação de rapto e de acolhimento de uma criança (sendo o sofrimento idêntico) exige-se por uma razão de segurança, pela prevenção geral.
Admitir que, para assegurar a absoluta integridade de um criança (raptada), se legitime a situação de subtração daquela aos pais biológicos, é abrir as portas a que qualquer pessoa tormentada se sinta tentada a produzir uma destas situações de "facto consumado".
Vem daí a diferença. No caso de rapto, a devolução da criança à família de origem tem (porventura, além das razões de retribuição, que não me parece poderem sobrepor-se aos interesses da criança) o efeito de transmitir à generalidade das pessoas que não compensa sequer considerar a hipótese de rapto, pois que, nestes casos, a situação é sempre reversível.
Neste contexto, e na medida em que nenhuma razão de prevenção geral se imponha - na medida em que a criança é entregue à família de acolhimento - o interesse da menor tem de ser, de facto, a bitola última.
Os adultos que vivam com os seus erros.
Credo. Era "pudessem", naturalmente.
Esses aspectos parecem-me claros, e, na minha opinião, indiscutiveis. O que pretendi reflectir no "Post", contudo, foi a natureza do vinculo que faz procurar as famílias biológicas, mesmo às pessoas com adopções bem conseguidas.Apesar das mudanças incrivelmente rápidas das sociedades, o cérebro é o mesmo de há milhares de anos, e reage de acordo.
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