II. É Sarkozy atlantista?
Continuemos.
A construção europeia é por definição uma construção frágil, que carece de uma vontade permanente. A alternativa é a desagregação ou a guerra civil. A União Latina foi bom exemplo do primeiro fenómeno, a guerra civil americana bom exemplo do segundo.
Se há um elemento de inércia de movimento, no que respeita à integração económica, já no que respeita à integração política, simbólica, de defesa, a questão é bem mais complexa. A Europa não é os Estados Unidos. Tem muito mais densidade e diversidade histórica, muito mais densidade humana, de sentimento, de diferenciações.
Uma política americana que vise fragilizar a Europa acaba por se virar contra os Estados Unidos. A longo prazo a União Europeia é a uma entidade política que pode ser um aliado simultaneamente leal e com dimensão bastante para os Estados Unidos. A sua localização geográfica e as suas diferenciações internas já são factores de instabilidade bastantes para ter problemas de auto-regulação. Os Estados Unidos não precisam de induzir mais factores de instabilidade. O curioso é que é dos conservadores clássico americanos, pertencentes ao partido republicano, que veio em grande medida esta consciência.
Em que é atlantista Sarkozy, na medida em que a expressão tenha significado? No seu discurso de posse fala primeiro da França, depois da Europa, de seguida na relação com os americanos. Ordem não arbitrária.
A ligação sincera (tem de se acreditar) de Sarkozy aos Estados Unidos acaba por ter potencialmente os seguintes resultados:
1) Convencer os Estados Unidos que precisam de uma Europa forte;
2) Convencê-los de que a política para a Europa inicialmente enunciada vai portanto em seu desfavor
3) Que a França é um seu aliado essencial na Europa.
Ao contrário do folclore dos apertadinhos temporais, muito mais que a Inglaterra, a França sempre foi o principal paradigma europeu para os Estados Unidos. Estes vêem a Inglaterra como uma prima mais velha com a qual têm parecença, mas em suma algo decadente. Na simbólica americana, tanto do americano médio como entre certas elites, a capital da Europa é Paris, nunca Londres.
Blair é alvo de grande simpatia americana. Mas fascínio é Sarkozy que até ao momento o provoca. Blair é como a esposa de meia-idade a quem se respeita mas já não excita. Quanto a Gordon Brown, ver-se-á. A novidade, o fascínio, vêm de Sarkozy. Ele provoca surpresa, provoca curiosidade, excitação. Durante quanto tempo, essa será outra questão. Mas se Sarkozy for consistente na sua política conseguirá uma inflexão na política americana (coisa que Blair nunca conseguiu), a diminuição do peso estratégico da Inglaterra junto dos Estados Unidos (a entrada dos novos países da União Europeia já não prenunciou grande coisa para o Reino Unido neste aspecto) e o reforço pragmático da Europa.
A obra, e mais uma vez, vê-se apenas depois de feita. Hinos e Te Deum só depois do feito consumado. Seja como for, e mais uma vez também, há sinais de que algo pode mudar na política europeia.
Alexandre Brandão da Veiga
A construção europeia é por definição uma construção frágil, que carece de uma vontade permanente. A alternativa é a desagregação ou a guerra civil. A União Latina foi bom exemplo do primeiro fenómeno, a guerra civil americana bom exemplo do segundo.
Se há um elemento de inércia de movimento, no que respeita à integração económica, já no que respeita à integração política, simbólica, de defesa, a questão é bem mais complexa. A Europa não é os Estados Unidos. Tem muito mais densidade e diversidade histórica, muito mais densidade humana, de sentimento, de diferenciações.
Uma política americana que vise fragilizar a Europa acaba por se virar contra os Estados Unidos. A longo prazo a União Europeia é a uma entidade política que pode ser um aliado simultaneamente leal e com dimensão bastante para os Estados Unidos. A sua localização geográfica e as suas diferenciações internas já são factores de instabilidade bastantes para ter problemas de auto-regulação. Os Estados Unidos não precisam de induzir mais factores de instabilidade. O curioso é que é dos conservadores clássico americanos, pertencentes ao partido republicano, que veio em grande medida esta consciência.
Em que é atlantista Sarkozy, na medida em que a expressão tenha significado? No seu discurso de posse fala primeiro da França, depois da Europa, de seguida na relação com os americanos. Ordem não arbitrária.
A ligação sincera (tem de se acreditar) de Sarkozy aos Estados Unidos acaba por ter potencialmente os seguintes resultados:
1) Convencer os Estados Unidos que precisam de uma Europa forte;
2) Convencê-los de que a política para a Europa inicialmente enunciada vai portanto em seu desfavor
3) Que a França é um seu aliado essencial na Europa.
Ao contrário do folclore dos apertadinhos temporais, muito mais que a Inglaterra, a França sempre foi o principal paradigma europeu para os Estados Unidos. Estes vêem a Inglaterra como uma prima mais velha com a qual têm parecença, mas em suma algo decadente. Na simbólica americana, tanto do americano médio como entre certas elites, a capital da Europa é Paris, nunca Londres.
Blair é alvo de grande simpatia americana. Mas fascínio é Sarkozy que até ao momento o provoca. Blair é como a esposa de meia-idade a quem se respeita mas já não excita. Quanto a Gordon Brown, ver-se-á. A novidade, o fascínio, vêm de Sarkozy. Ele provoca surpresa, provoca curiosidade, excitação. Durante quanto tempo, essa será outra questão. Mas se Sarkozy for consistente na sua política conseguirá uma inflexão na política americana (coisa que Blair nunca conseguiu), a diminuição do peso estratégico da Inglaterra junto dos Estados Unidos (a entrada dos novos países da União Europeia já não prenunciou grande coisa para o Reino Unido neste aspecto) e o reforço pragmático da Europa.
A obra, e mais uma vez, vê-se apenas depois de feita. Hinos e Te Deum só depois do feito consumado. Seja como for, e mais uma vez também, há sinais de que algo pode mudar na política europeia.
Alexandre Brandão da Veiga
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