II. Roger Scruton, England, Chatto & Windus
A ligação que Scruton faz entre o elitismo e anti-europeísmo, elitismo e contenção sexual é assim arbitrária sob o ponto de vista lógico, mas explicável sob o ponto de vista social. Por mais inteligente que seja um plebeu, o elitismo cai-lhe mal, fica-lhe deslocado. O elitismo em corpo plebeu parece sempre fraque alugado. Nos Buddenbruck Thomas Mann tinha razão ao dizer que a aristocrata campestre que só sabia falar de vacas era melhor que os patrícios Buddenbruck. Estava mais adequada ao que era, mais integrada no fluxo do tempo, por pouco intelectualmente interessante que fosse.
A grande cultura inglesa nunca foi antieuropeia. Sem a França, metade das obras de Shakespeare seriam inexistentes, sem a Itália perdiam-se pelo menos três obras-primas, Romeu e Julieta, O Mercador de Veneza e Otelo. Se se identifica europeísmo com burocracia, o que aliás é mais culpa de quem quer desencarnar a Europa sob o ponto de vista político, ou seja dos antieuropeus, é evidente que a Europa é uma realidade repugnante. Mas sendo ela bem mais que isso, a ligação é arbitrária.
A grande cultura inglesa das elites nunca foi anti-sensual. Byron, Nelson mas também a rainha Victória estavam bem longe de ser exemplos de puritanismo. Os vitorianos mais aguerridos pertenciam às middle classes e sobretudo às low middle classes. Se é certo que o ambiente geral na Inglaterra victoriana se tornou mais hostil ao sexo no século XIX isso apenas mostra o triunfo do paradigma burguês numa sociedade ainda muito dominada pela aristocracia. Não quer isso dizer que as elites o fossem. Adoçava-se a dominação das classes baixas lembrando-lhes que abaixo delas estavam os Bantus e por isso ainda tinham algo de imperial. A sua coesão vinha do victorianismo, mas não a razão de ser dessa coesão. Esta razão de ser, a compensação, vinha do Bantu.
O teste a fazer é aliás simples. Numa Inglaterra que é hoje em dia sob o ponto de vista cultural e político mais antieuropeia do que algum dia foi, a sexualidade é mais livre publicamente do que o era antes. A contenção não foi destruída pela Europa, seja ela a sexual, seja a de comportamento social. É o mesmo movimento de cinismo popularucho e de divulgação que gera a descrença na fidelidade e na Europa. E a mesma esterilidade cultural.
A grande cultura inglesa nunca foi antieuropeia. Sem a França, metade das obras de Shakespeare seriam inexistentes, sem a Itália perdiam-se pelo menos três obras-primas, Romeu e Julieta, O Mercador de Veneza e Otelo. Se se identifica europeísmo com burocracia, o que aliás é mais culpa de quem quer desencarnar a Europa sob o ponto de vista político, ou seja dos antieuropeus, é evidente que a Europa é uma realidade repugnante. Mas sendo ela bem mais que isso, a ligação é arbitrária.
A grande cultura inglesa das elites nunca foi anti-sensual. Byron, Nelson mas também a rainha Victória estavam bem longe de ser exemplos de puritanismo. Os vitorianos mais aguerridos pertenciam às middle classes e sobretudo às low middle classes. Se é certo que o ambiente geral na Inglaterra victoriana se tornou mais hostil ao sexo no século XIX isso apenas mostra o triunfo do paradigma burguês numa sociedade ainda muito dominada pela aristocracia. Não quer isso dizer que as elites o fossem. Adoçava-se a dominação das classes baixas lembrando-lhes que abaixo delas estavam os Bantus e por isso ainda tinham algo de imperial. A sua coesão vinha do victorianismo, mas não a razão de ser dessa coesão. Esta razão de ser, a compensação, vinha do Bantu.
O teste a fazer é aliás simples. Numa Inglaterra que é hoje em dia sob o ponto de vista cultural e político mais antieuropeia do que algum dia foi, a sexualidade é mais livre publicamente do que o era antes. A contenção não foi destruída pela Europa, seja ela a sexual, seja a de comportamento social. É o mesmo movimento de cinismo popularucho e de divulgação que gera a descrença na fidelidade e na Europa. E a mesma esterilidade cultural.
1 comentários:
Aproveito esta entrada para comentar o seu visível ódio ao Turco, patente nos seus escritos. Da sua óptica a Turquia não é a historicamente a Europa e nunca deve ser a Europa no futuro. O problema é que o que foi a História e o que deve ser o futuro são questões cujas respostas não têm que ser idênticas. Que a Turquia não é a Europa historicamente parece óbvio. Os Turcos e seus predecessores sempre foram o "Outro". A Turquia não é cristã, é tardiamente iluminista, é pouco grega e quase nada latina. Paira a memória da Batalha de Lepanto no Séc. XVI e do cerco de Viena no último quartel, do já próximo século XVII.
O que me parece um erro é daqui concluir que no futuro a Turquia nunca deva ser a Europa, numa cristalização de espaços e estruturas políticas e culturais que a História sempre negará. Em primeiro ligar o actual Estado Turco ocupa território historica e culturalmente bastante europeu. Não se trata aqui de geografia mas de memória. Há uma certa Europa enterrada em Istambul. Bizâncio foi fundada por um grego (Byzas) que a colonizou. Há um passado grego pré cristão em Istambul. Constantinopla foi uma solução política no século IV para combater a desagregação política de um já insuportavelmente vasto Império Romano. Há um passado latino em Istambul. A cristinanização do Império Romano tornou Constantinopla um dos pólos da Cristandade. A mais Grega das Cristandades. Em Constantinopla mescla-se Jerusalém, Atenas e Roma e gera-se uma estrutura política que sobrevive 1000 anos à queda do núcleo do Império Romano, o Ocidental. 1453 tem um longo passado atrás de si, quando Meca se junta a Jerusalém, a Atenas e a Roma e a "Hagia Sophia" se transmuta de uma imponente Catedral numa impressionante Mesquita. No final da I Guerra Mundial o Tratado de Sèvres retira Istambul ao futuro Estado Turco, atribuindo-o à Grécia. O esforço militar de Attaturk, em conflitos póstumos ao fim da Grande Guerra preserva esse segmento europeu turco e a sua Jóia à beira do Bósforo. O Tratado de Lausanne consolida a reconquista de Attaturk. Se é verdade que o Turco sempre foi o "Outro", também é verdade que a Europa nunca tanto se confrontou com o outro como em Istambul. Se acreditamos nos nossos valores e achamos que se devam universalizar, havendo algo de altruista nisto, o primeiro outro a converter será aquele com nos cruzamos diariamente.
A não ser que se ache que a Avenida de Roma não é Lisboa porque nos anos 30 não estava lá e era um baldio a seguir aos subúrbios. E que foi um erro tê-la feito.
Ou se ache que o que se deve fazer é conquistar Constantinopla aos Turcos.
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