Status quo
Num só dia, o DN traz-nos dois excelentes (e pequenos!) artigos de opinião que, sendo bem diferentes no estilo e no tema, têm algo em comum: identificam duas das principais razões pelas quais Portugal é um país onde manda o status quo.
João Miguel Tavares escreve sobre o sindroma do "prove-se", frequentemente utilizado, entre nós, para impedir qualquer crítica no espaço público. A verdade é que, como bem lembra JMT, as regras do espaço público não são (nem devem ser) as regras de um Tribunal. É preciso distinguir entre o fazer acusações ou levantar suspeitas acerca de certas pessoas e as críticas de carácter institucional ou sistémico (mesmo que estas suscitem suspeitas). As primeiras são matéria de Tribunal mas as segundas que identificam, por ex., processos de decisão ineficientes ou que podem promover práticas de corrupção, são necessárias a um debate público informado e aberto, próprio de uma sociedade democrática. Exigir que qualquer crítica no espaço público seja provada de forma documental é apenas uma forma de calar a crítica e manter o status quo. Claro que é, igualmente, importante que quanto maior for a posição responsabilidade de quem faz a crítica maior o cuidado a ter na sua formulação, sobretudo porque lhe deve ser exigido que aja de forma coerente e de acordo com as suas responsabilidades. Os responsáveis públicos não devem poder desculpar-se com o sistema que eles próprios controlam sem estar prontos a demonstrar publicamente o que fazem para o modificar.
João Miguel Tavares escreve sobre o sindroma do "prove-se", frequentemente utilizado, entre nós, para impedir qualquer crítica no espaço público. A verdade é que, como bem lembra JMT, as regras do espaço público não são (nem devem ser) as regras de um Tribunal. É preciso distinguir entre o fazer acusações ou levantar suspeitas acerca de certas pessoas e as críticas de carácter institucional ou sistémico (mesmo que estas suscitem suspeitas). As primeiras são matéria de Tribunal mas as segundas que identificam, por ex., processos de decisão ineficientes ou que podem promover práticas de corrupção, são necessárias a um debate público informado e aberto, próprio de uma sociedade democrática. Exigir que qualquer crítica no espaço público seja provada de forma documental é apenas uma forma de calar a crítica e manter o status quo. Claro que é, igualmente, importante que quanto maior for a posição responsabilidade de quem faz a crítica maior o cuidado a ter na sua formulação, sobretudo porque lhe deve ser exigido que aja de forma coerente e de acordo com as suas responsabilidades. Os responsáveis públicos não devem poder desculpar-se com o sistema que eles próprios controlam sem estar prontos a demonstrar publicamente o que fazem para o modificar.
O outro artigo é de Ferreira Fernandes e recorda-me um artigo de opinião que escrevi nos meus tempos do DN sobre as virtudes do erro. O artigo fala de mais uma invenção japonesa aparentemente ridícula e de como os japoneses se dão bem com isso: "os japoneses respeitam as invenções mais bizarras, as chindogu, que são muitas vezes meio caminho andado para as invenções úteis". Trata-se de reconhecer que para podemos ter criatividade e inovação é necessário promover uma cultura que não tenha medo do erro e do ridículo. O medo do ridículo mata mais em Portugal que o próprio ridículo: mata a inovação e a criatividade. É por isso que, como dizia Eça, somos sobretudo uma sociedade que importa tudo (desde ideias a produtos).
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