segunda-feira, 8 de outubro de 2007

I. É Sarkozy atlantista?

Os opositores de Sarkozy tentaram vender a imagem de que este era mais um vendido aos americanos. Facto curioso, mas infelizmente comum, muitos observadores externos, geralmente pró-americanos, viram com alegria o mesmo “facto”. Entristece a uns e alegra a outros a mesma mistificação.

Qual a política americana para a Europa nos últimos quarenta anos, politica essa que tem sido aboborada pelo último governo americano? Desenvolve-se em várias linhas:
1) Impedir a união política, a integração da defesa, mantendo apenas a integração económica
2) Instigar a criação de uma Europa multicultural
3) Impor a adesão turca, que produz os dois anteriores efeitos
4) Abrir as fronteiras da Europa para absorver os choques migratórios não qualificados sobretudo dos países muçulmanos, quando os Estados Unidos têm uma política de atracção sobretudo de pessoas qualificadas do terceiro mundo.

Sobretudo nas últimas duas décadas, grande aliado deste projecto tem sido o Reino Unido. Não o será por muito tempo, na medida em que começam a aparecer sinais de inversão de tendência, dado que perceberam que não ser apenas a Europa continental a pagar o preço dessa política.

Aliados igualmente dessa política os ultraliberais europeus, os ideólogos da economia de mercado como paradigma social, mas igualmente os altermundialistas. Os trotskistas, os verdes, os ecologistas, entre outros. Os extremos tocam-se com frequência. Os realmente ultra-ortodoxos entre os judeus são aliados do Irão por serem contra a criação do Estado de Israel. Aqui também não nos pode espantar este tipo de convergência de interesses e opiniões.
De uma forma ou de outra o consulado de Chirac compactuou com as grandes linhas de força da política americana. No que nela lhe desagradava, nada evitou. No que lhe agradava fez que se incentivasse.

Sarkozy contesta toda esta política. E não sendo o primeiro que a contesta (políticos holandeses, alemães, nórdicos, entre tantos outros já o tinham antecedido), não foi igualmente o primeiro a associar esta oposição à política americana uma vontade de aliança próxima com os Estados Unidos. A CDU-CSU alemã está igualmente na mesma linha.

O cenário é portanto bem mais complexo do que o de oposição/subserviência aos Estados Unidos.

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