Do Che a Sócrates com paragem no país de Sarkozy
Começo a encarar a informática com algum sentimentalismo. E falando disso, não sei porquê, a coisa puxa muito ao gerúndio. Com e-mail se mata, sem e-mail se morre. Um crash no “pc” da gente e cobre-nos a mesma angústia que destilávamos quando, na adolescência, se acabavam os amores de Verão. Os jovens sem amor de Nelson Rodrigues descambaram, hoje, nuns patéticos adultos sem Internet: os esbugalhados de Silicon Valley.
O intróito justifica a ausência de mais de duas semanas (da qual, reconhece o meu amarrotado ego, ninguém se queixou), e autoriza-me a comentar ao retardador as anti-semanas que vivi sem bytes, se é que viver sem bytes ainda se pode chamar viver.
Supresa, o Pedro defendeu com vigor juvenil o Che: em nome do mito; em nome da mesma nostalgia com que acima evoquei os amores de adolescência de todos nós. É verdade, o velho John Ford também dizia “When the legend becomes fact, print the legend”. Mas Ford não ficaria impassível se o hediondo invadisse a lenda. E não acho que a capacidade de sonhar o mundo, a capacidade de se sonhar um mundo com justiça, a capacidade de acreditar que um dia todos os corruptos de todas as oligarquias, todos os torcionários das mais variadas formas de totalitarismo, serão fatalmente objecto da mais salubérrima condenação e castigo, se evapore quando e onde se diga do Che o que rigorosamente agora a História nos obriga a dizer.
Por exemplo, José Afonso é um muito melhor mito do que o Che. A voz era – continua a ser – límpida. A utopia de algumas das canções dele é exaltante, e lembro “Canto Moço” que, se fosse escrita em inglês, seria um tão bom e altivo estandarte como “Blowing in the Wind” o foi para a geração do inefável, se bem que rouco, Bob Dylan. Tudo conferido, não matou, não mandou matar ninguém. “Pelas praias do mar nos vamos à procura da manhã clara” é um apelo universal, fulgurante, acima de ideologias
Mudando de assunto, fui a Cannes e não fui ao “La Chunga”. De que misteriosas mudanças é que, afinal, somos compostos?
Outro tema: mesmo nestes tempos virtuais, persiste insubstituível a inteligência do olhar. Ver para crer. E é vendo Paris, no país de Sarkozy, que se percebe melhor uma certa saturação urbana, um óbvio aperto mitral do que foi o mais elegante e civilizado “modo de vida”. Hélas!
E por fim, a Europa tem um tratado, o Tratado de Lisboa. Por mais voltas que se dê, uma grande vitória de Sócrates. Vitória substancial de Merkel, vitória institucional de Barroso. Mas vitória nacional e internacional de Sócrates, representante de um país peso-pluma. Vitória de imagem, da crença, da diplomacia de última hora. .
O intróito justifica a ausência de mais de duas semanas (da qual, reconhece o meu amarrotado ego, ninguém se queixou), e autoriza-me a comentar ao retardador as anti-semanas que vivi sem bytes, se é que viver sem bytes ainda se pode chamar viver.
Supresa, o Pedro defendeu com vigor juvenil o Che: em nome do mito; em nome da mesma nostalgia com que acima evoquei os amores de adolescência de todos nós. É verdade, o velho John Ford também dizia “When the legend becomes fact, print the legend”. Mas Ford não ficaria impassível se o hediondo invadisse a lenda. E não acho que a capacidade de sonhar o mundo, a capacidade de se sonhar um mundo com justiça, a capacidade de acreditar que um dia todos os corruptos de todas as oligarquias, todos os torcionários das mais variadas formas de totalitarismo, serão fatalmente objecto da mais salubérrima condenação e castigo, se evapore quando e onde se diga do Che o que rigorosamente agora a História nos obriga a dizer.
Por exemplo, José Afonso é um muito melhor mito do que o Che. A voz era – continua a ser – límpida. A utopia de algumas das canções dele é exaltante, e lembro “Canto Moço” que, se fosse escrita em inglês, seria um tão bom e altivo estandarte como “Blowing in the Wind” o foi para a geração do inefável, se bem que rouco, Bob Dylan. Tudo conferido, não matou, não mandou matar ninguém. “Pelas praias do mar nos vamos à procura da manhã clara” é um apelo universal, fulgurante, acima de ideologias
Mudando de assunto, fui a Cannes e não fui ao “La Chunga”. De que misteriosas mudanças é que, afinal, somos compostos?
Outro tema: mesmo nestes tempos virtuais, persiste insubstituível a inteligência do olhar. Ver para crer. E é vendo Paris, no país de Sarkozy, que se percebe melhor uma certa saturação urbana, um óbvio aperto mitral do que foi o mais elegante e civilizado “modo de vida”. Hélas!
E por fim, a Europa tem um tratado, o Tratado de Lisboa. Por mais voltas que se dê, uma grande vitória de Sócrates. Vitória substancial de Merkel, vitória institucional de Barroso. Mas vitória nacional e internacional de Sócrates, representante de um país peso-pluma. Vitória de imagem, da crença, da diplomacia de última hora. .
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