Interesse Público e interesse do público: rugby e Aquilino
Acatei com dificuldade a explicação de Luís Marinho (RTP) justificando a não transmissão dos jogos de Rugby no canal estatal. O Director de informação e programação disse na passada semana que não havia audiência suficiente para tal opção. Ficámos assim com as imagens impressionantes do hino cantado pela equipe de amadores que ali se batia contra os melhores do mundo, durante alguns segundos do telejornal. Pouco mais.
Esta manhã dou de caras com a transmissão em directo do Panteão Nacional da tranladação dos restos mortais de Aquilino Ribeiro.
- Qual terá sido o nível das audiências?
- Será o exemplo de um bombista incompetente, íntimo de quem matou o Chefe de Estado no Terreiro do Paço, mais importante para a transmissão televisiva do que o dos rapazes que se batem contra os «All Blacks» da Nova Zelândia?
- Ou será maneira de honrar um escritor de excepção transladá-lo para o Panteão Nacional enquanto se mantém o seu nome na lista dos autores de «livros não lidos» dos programas escolares?
- O que terá pesado hoje na decisão de Marinho? E do Governo?
Parece estar tudo ao contrário: A RTP cega perante o apoio que o País deve aos aventureiros do Rugby que representam com valentia, boa cara e ossos partidos a bandeira de Portugal; e o Governo bipolar que dá honras de Panteão ao activista da Carbonária esquecendo o escritor do lugar de onde nunca devia ter saído: o ensino literário das novas gerações.
Como disse António Valdemar durante a cerimónia: «todo o escritor morre quando deixa de ser lido e todo o que é lido é descoberto». Só por esta frase valeu a transmissão, Marinho.
6 comentários:
Inez Dentinho que me perdoe: o seu post é puramente delirante. A forma como refere a acção política de Aquilino é de uma ligeireza cofrangedora - a mesma que verbera, com alguma razão, nos comentários anónimos.
Na perspectiva de Inez Dentinho, D. Afonso Henriques foi um bandoleiro que roubou terras a agricultores mouros que nelas viviam há centenas de anos; D. Pedro I foi um assassino à solta, chicoteador de Bispos, mulherengo cínico; Vasco da Gama um pirata que desembarcou na costa de um país pacífico da Ásia para se apoderar, à força, do seu comércio; D. Miguel e D. Pedro dois aventureiros que lançaram o país na sua pior guerra civil por ambição pessoal.E assim por diante.
Para Inez Dentinho não há perspectiva histórica, contexto temporal. Ela vê o passado com os óculos escuros com que vai à praia no Verão.
Ainda bem que há pessoas assim. Servem para mostrar quão ligeira e atrevida é a ignorância.
D. Inez Dentinho que me desculpe...
Há um ponto incontornável em que Inez Dentinho tem toda a razão: para quê tanta cerimónia e veneração se ninguém o lê? Pior ainda: se para a posteridade o que fica é a grandeza do escritor que é razoável (mas não unanimente)aceite, será que não há uma pontinha de cinismo no espectáculo da trasladação quando nada se investe na publicação das obras ou na sua inserção nos planos de leitura?
«o País deve aos aventureiros do Rugby que representam com valentia, boa cara e ossos partidos a bandeira de Portugal;»
"Aventureiros do Rugby" (assim, com maiúscula e tudo) é precioso;
"Boa cara"? Não gostei. Esta feriu a minha sensibilidade feminina;
Quanto a representar a bandeira com ossos partidos... enfim... sou mais da onda pacifista, mas, lá está, em todo o caso parece-me pouco estético.
Delírio por delírio, reconheço mais mérito às clarividências da autora quanto ao papel histórico de Aquilino no regicídio. deixam-me muito mais divertida.
Agora a sério, algo de muito errado se passa quando se equipara em relevância o desempenho de uma equipa de desporto amadora com as honras que se querem dedicar a personagens de relevo histórico.
É evidente que não comparo Aquilino com a selecção de Rugby. Refiro-me aos desencontros do nosso tempo mediático e político.
1) Aquilino escritor devia estar nos programas escolares;
2) Aquilino atentador contra a vida de um Chefe de Estado português não deveria estar no Panteão Nacional;
3) O Governo que o promove nestas cerimónias não o acha recomendável na exacta condição da honra concedida.
4)Quanto ao Rugby, estamos perante uma proeza nunca dantes conseguida do ponto de vista da internacionalização do nosso desporto. Se as audiências são argumento - único - para não a transmitir questiono porque razão esse argumento não presidiu, dias depois, à transmissão da cerimónia de Aquilino. A resposta, sabêmo-la: a televisão é mais pública para o Governo do para o País.
Finalmente, não compreendo o primeiro comemtário que me atribui uma leitura histórica fora do contexto. Aquilino conspirou na violência terrorista da Carbonária que levaria ao assassinato do Rei e do Príncipe Real. São factos históricos assumidos pelo próprio.
Tudo o mais é imaginação do primeiro comentário. Discorde com mais verdade e bom gosto. Verá que a vida se torna menos desagradável na adversidade. Em todo o caso, agradeço a sua atenção ao blog.
"Quanto ao Rugby, estamos perante uma proeza nunca dantes conseguida do ponto de vista da internacionalização do nosso desporto".
Sabe o que está a dizer? Só nos últimos dias houve: vitória no campeonato do mundo no Triatlo (além de outras honrosas classificações); medalha de prata no Judo; medalha de ouro no Atletismo; 9º lugar no Basquetebol Europeu...
Estou de acordo consigo, e parece-me que foi aquilo que quis dizer, o Rugby devia ser transmitido pela garra, entrega, pela beleza do jogo, pela maneira como cantam o hino, por ser uma modalidade diferente... mas o nível do nosso jogo ainda é muito fraco. No ranking quedamo-nos no 22º lugar.
Quanto aos valores cívicos de Aquilino discordo consigo. Ele e outros ajudaram a acabar com a triste figura da monarquia que agonizava.
Estamos de acordo quanto ao escritor. Na 1ª metade do século XX só deu Pessoa e Aquilino!
O facto de discordar consigo não quer dizer nada, aliás, acho que o Rugby merece quem o defenda.
Paulo Costa
O que é giro nisto de comentar blogues é que estamos de novo à mesa do café - tertúlia! - e discordamos saudavelmente uns dos outros enquanto escorropichamos a bica.
Não nos vemos olhos nos olhos?
Pois,é verdade. Mas a vantagem é que nos ouvimos melhor uns aos outros e não nos distraimos com pormenores de aparência, vestuário, óculos, dentes amarelos, cigarros desagradáveis...
Gostei dets "papo".
Voltarei quando puder.
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