IV. O mérito
Mais outro vício, porque o que é expulso por uma porta aparece por uma janela. As teorias racistas apenas poderiam nascer em solo anti-aristocrático, como se pode ver pelo fenómeno nazi e fascista.
Se os exemplos históricos de meritocracia estão bem longe da democracia não é por acaso. É que a que se atribuiu mérito, quem atribui o mérito, e a quem se atribui mérito são mais factores de uma cultura que de um regime político. E quem detém esse mérito tem-no sempre em grande medida por causas que não escolheu: uma aptidão, uma inteligência, uma visão, uma atitude perante a vida cuja genética e educação desenvolveram.
Porque aqui entra a terceira faceta da meritocracia. A primeira está no que cada um leva, a sua genética, a sua educação. No segunda o que cada um recebe, a valoração que a sociedade faz dos seus méritos. A terceira faceta é a do sucesso. A meritocracia tende a adular o sucesso, seja o que isto signifique. E este lado institui nas sociedades (por mais democráticas que se digam) um factor de crueldade. Por exclusão de partes a grande maioria das pessoas não acedem aos pontos mais altos do sucesso, são escalonadas na meritocracia, por critérios que já vimos podem ser os mais variados. Que uma sociedade tenha forçosamente elementos de crueldade é inevitável. Que se diga que, sendo o mérito inerente à democracia, a democracia é geradora desta crueldade já a carrega de um outro peso. Os excluídos do mérito seriam os desclassificados da democracia. Ora se para algo existe a democracia é para ponderar as desclassificações, não para as instituir.
Que a democracia recolha ideias de mérito é inevitável, apenas porque todas as culturas sempre viveram de ideias de mérito. Que se tenha a ilusão de que esta é uma figura democrática apenas pode resultar de um etnocentrismo europeísta e modernista que julga que vivemos no paradigma da História e que o solo que pisamos é o solo natural da humanidade. Quando este vale apenas para um tempo e para um espaço. A diversidade humana tem a maravilha de ser infinitamente mais rica que essa ilusão.
Alexandre Brandão da Veiga
Se os exemplos históricos de meritocracia estão bem longe da democracia não é por acaso. É que a que se atribuiu mérito, quem atribui o mérito, e a quem se atribui mérito são mais factores de uma cultura que de um regime político. E quem detém esse mérito tem-no sempre em grande medida por causas que não escolheu: uma aptidão, uma inteligência, uma visão, uma atitude perante a vida cuja genética e educação desenvolveram.
Porque aqui entra a terceira faceta da meritocracia. A primeira está no que cada um leva, a sua genética, a sua educação. No segunda o que cada um recebe, a valoração que a sociedade faz dos seus méritos. A terceira faceta é a do sucesso. A meritocracia tende a adular o sucesso, seja o que isto signifique. E este lado institui nas sociedades (por mais democráticas que se digam) um factor de crueldade. Por exclusão de partes a grande maioria das pessoas não acedem aos pontos mais altos do sucesso, são escalonadas na meritocracia, por critérios que já vimos podem ser os mais variados. Que uma sociedade tenha forçosamente elementos de crueldade é inevitável. Que se diga que, sendo o mérito inerente à democracia, a democracia é geradora desta crueldade já a carrega de um outro peso. Os excluídos do mérito seriam os desclassificados da democracia. Ora se para algo existe a democracia é para ponderar as desclassificações, não para as instituir.
Que a democracia recolha ideias de mérito é inevitável, apenas porque todas as culturas sempre viveram de ideias de mérito. Que se tenha a ilusão de que esta é uma figura democrática apenas pode resultar de um etnocentrismo europeísta e modernista que julga que vivemos no paradigma da História e que o solo que pisamos é o solo natural da humanidade. Quando este vale apenas para um tempo e para um espaço. A diversidade humana tem a maravilha de ser infinitamente mais rica que essa ilusão.
Alexandre Brandão da Veiga
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