O deserto dos tártaros
Cheguei a Dino Buzzati através da meritória «Ficções» de Luísa Costa Gomes. O conto, magistral, que primeiro prendeu a minha atenção dá pelo nome de «Sete Andares» e narra a vida de um homem que entra numa clínica para um tratamento menor e que vai sendo transferido, aparentemente por razões kafkianamente burocráticas, de andar em andar até chegar ao piso onde se encontram os doentes terminais sem que nada nunca lhe seja dito acerca do seu real estado de saúde. Ataquei de seguida «Os sete mensageiros» o volume de contos em que originalmente fora publicado «Sete Andares» e confirmei a minha opinião. Este Verão dediquei-me ao «Deserto dos Tártaros», obra maior deste jornalista/escritor conotado com o realismo mágico e o existencialismo.
Drogo é um jovem oficial colocado na remota e semi-abandonada fortaleza Bastiani onde tudo gira em torno de uma mais do que anunciada invasão de tártaros que é a própria razão de ser do aquartelamento e a única esperança de glória para os seus soldados e oficiais desterrados para um inóspito fim do mundo. «O deserto dos tártaros» é a angustiante história dessa espera interminável por uma invasão que, obviamente nunca virá. É o retrato sufocante de uma vida gasta em vão, de um desfiar sem sentido de dias, meses e anos. Uma parábola sobre o significado da esperança e o sentido da vida.
5 comentários:
Por coincidência também li este livro este Verão. Mas o fim reserva uma surpresa. E foi o fim que me fez gostar mesmo do livro, devo dizer. Se o livro fosse apenas sobre o tema da espera em vão teria uma "moral" menos interessante. Não digo mais para não tirar a surpresa.
Mais diria que esta se trata de um clássico e verdadeira obra de referência de um certo submundo da literatura.
Imperdível, de facto.
Caro Pedro,
Desde Itália...
Que fantástica surpresa recordar através do teu post uma das minhas obras favoritas da literatura italiana (ou da literatura em absoluto!). Para quem não leu: fundamental!
abraço
Miguel
Também eu cheguei a Dino Buzzati e ao seu "O Deserto dos Tártaros" através do conto editado pela Luisa Costa Gomes nessa revista inestimável que a "Ficções". Mas antes passei pelo "O Segredo do Bosque Velho" que pode ser narrado a (algumas) crianças e onde encontrei o melhor de Buzzati e que me permito recordar. Na mesma editora - Cavalo de Ferro -, em regra com traduções muito boas.
O Deserto dos Tártaros foi, para mim, uma revelação. Um dos romances mais poderosos que tenho lido, de leitura quase compulsiva.
Contudo, deixa a amarga impressão da vacuidade da vida - uma visão que não é a minha.
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