terça-feira, 31 de julho de 2007

III. É Sarkozy populista?

Porque é então chamado de populista, se tem uma ideologia bem forte e marcada? Por chamar de canalha a quem queima uma deficiente num autocarro, não por ser jovem, pobre, magrebino, mas não achando que este facto o desculpa da sordidez da sua natureza pessoal?

Populista se desagrada aos meios de comunicação social, aos jornalistas, a muitos intelectuais bem pensantes e corre o risco de desagradar ao próprio povo sem medo de excomunhão pelos intelectuais?

Vejamos então quem o chama de populista em geral. Por um lado, pessoas arrastadas pelo que se diz na comunicação social e em alguns meios intelectuais. Mas sobretudo os meios de comunicação social... e os populistas. Porquê? Porque não admitem que alguém seja de direita e tenha ideologia forte. O bem pensante apenas aceita a vitória eleitoral da direita desde que se mantenha o reino ideológico da dita esquerda. A esquerda resigna-se à perda o imperium, não à perda do sacerdotium.

Ora é por ser precisamente ideológico que Sarkozy assustou o aparelho ideológico dominante. Obriga a partilhar o sacerdotium. Daí que, como velha nobreza acossada por invasores, a velha guarda ideológica faça tudo para ao desacreditar. Nem grosseiro nem irrealista, não vejo que Sarkozy possa ser apodado de populista. O apodo vem de quem tem medo de ser destronado, não de círculo mais elevado. Uma autarca comunista francamente lúcida, lembrou que esta não era apenas uma derrota eleitoral da esquerda, mas sobretudo uma derrota ideológica. A ninguém passaria pela cabeça tal comentário quando da vitória de Chirac, que não é no entanto, um extremo esquerdista.

Saliento que usei aqui por comodidade os conceitos de esquerda e direita. Saliento igualmente que não me pronuncio se apoiaria ou não Sarkozy. É problema meu. Nem posso adivinhar se a obra será grande. Mas o que se pode afiançar é que não começa com a desculpa e a pequenez que se esperaria de um político recente. Tem a marca da grandeza, vejamos se a obra lhe faz jus. Mas já ter a marca é uma variante num grande país europeu, tendo em conta a História recente. Desde Heath, Brandt, Kohl, Schmidt entre poucos outros que não via um político de um grande país que traga tal marca de grandeza. Merkel é mais discreta, definir-se-á mais pelas obras. Seja como for é uma imensa variante em relação ao enfado a que temos sido votados nos últimos tempos. O futuro o dirá.



http://www.ezineblog.org/?p=46



Alexandre Brandão da Veiga

0 comentários: