terça-feira, 12 de junho de 2007

III. As velas ardem até ao fim, Sándor Márai, Dom Quixote, 2007

A história passa-se na Hungria, nessa Europa Central em que, cada vez mais me convenço, ao contrário do sentido parolo de certos “ocidentais” (sejam eles quem forem), muita da alma da Europa se encontra, e dos seus problemas com a outra (muito verdadeira) Europa que é a Rússia.

É desta parte que vem muitas vezes um sopro novo, sem a pudicícia plebeia em relação à continuidade, à honra, à grandeza.

A história passa-se entre dois aristocratas, um pobre e outro rico, que redunda num triângulo amoroso. A estrutura é simples, a história em muitos aspectos expectável, mas por isso mesmo não está presa à procura do efeito. Um triângulo amoroso, em que a mulher de um deles está envolvida, que narração mais banal?

Mas o autor está bem consciente da banalidade da história. Não é ela que determina a relevância da novela. Quase em monólogo, é da relevância das respostas e da forma como elas podem vir de que se trata. A ideia de resposta vem recorrentemente e mostra que em última análise é de respostas que carecemos, e mais ainda, que são elas que conformam a vida. Respostas feitas de gestos muitas vezes mais que de palavras, ou respostas feitas simplesmente de se viver ou morrer.

1 comentários:

Unknown disse...

Caro Alexandre,
Sou um admirador de há largos anos do Sandór Márai e da sua obra (ainda pouco publicada em Portugal). Mas confesso que nunca tinha pensado n' «As velas ardem até ao fim» como um romance aristocrático. Acho que tens toda a razão e, pensando em retrospectiva, acho que é esse carácter que explica um tratamento tão tocante e tão singular do tema da nostalgia que é, na minha humilde opinião, o grande tema de Márai. Como o é de algumas das obras de Ruben A., de Sophia ou de Anne Wiazemsky («O livro dos destinos»)que - sem até agora perceber porquê - sempre associei a este magnífico «Velas»