Aeroporto: decidindo como decidir
São tantas e tão contraditórias as opiniões técnicas sobre a nova localização do aeroporto de Lisboa que nos sentimos desorientados, vítimas de um jet lag mental em que a cabeça se encontra perdida entre tantas posições opostas mas expressas sempre com a mesma autoridade científica. Será que teremos de olhar para lá da ciência? Talvez fosse interessante ler um artigo recente da TIME: aparentemente alguns dos melhores aeroportos recentemente construídos recorrem ao… Feng Shui! Um dos casos referidos é o do aeroporto de Hong Kong. Segundo a TIME a sua localização foi determinada com a ajuda de técnicos de Feng Shui. Pessoalmente, tendo já utilizado este aeroporto, posso confirmar a excelência do resultado final. Talvez seja esta a solução possível para um contexto de tanta disputa técnica como aquele que envolve o futuro aeroporto de Lisboa…
O que me parece claro é que não é multiplicando estudos que chegaremos a uma decisão consensual. Temos antes de encontrar uma forma de decisão à qual estejamos dispostos a oferecer o nosso consenso. Será que James Surowiecki (The Wisdom of Crowds) tem razão e que as multidões frequentemente "sabem" mais que as elites? O problema é que os instrumentos e condições que Surowiecki apresenta para tomar decisões dessa forma já não se encontram reunidas neste caso (a informação já está demasiado disseminada e conhecida e a grande maioria de nós já se associou a uma posição; por outras palavras, já não somos suficientemente ignorantes para poder decidir de forma inteligente como multidão…).
A decisão sobre o aeroporto de Lisboa é "vítima" de duas circunstâncias. A primeira é que o discurso técnico é crescentemente uni-disciplinar: cada grupo técnico racionaliza a decisão exclusivamente (ou, pelo menos, predominantemente) à luz da sua disciplina. Não surpreende por isso que os engenheiros civis tenham uma opinião, os engenheiros do ambiente outra e os engenheiros de aeronáutica outra ainda. Acrescente-se que dentro de cada uma destas disciplinas existem diferentes "escolas". Resultado: contrapõem-se certezas técnicas sem que exista forma de estabelecer uma hierarquia entre elas. O segundo problema é a contaminação do discurso técnico pela política e vice-versa. É, hoje, impossível diferenciar o que é uma opção política do que é uma escolha técnica. Tal circunstância descredibiliza as conclusões(?) técnicas e, simultaneamente, retira espaço à política (acusada de não ser tecnicamente bem fundamentada). É por isso que a única forma de voltar racionalizar o discurso passa por abandonar, temporariamente, a questão da decisão para nos concentrarmos previamente em como decidir: independentemente de nunca virmos a chegar um consenso sobre qual a melhor decisão talvez consigamos chegar a um consenso sobre uma forma aceitável para todos de decidir a questão.
4 comentários:
-O governo só faz um recuo estratégico para não sofrer um dissabor nas autárquicas em Lisboa, era o mínimo que poderia fazer pelo seu ex-membro António Costa, chutando a decisão lá para Dezembro, onde nos vão apresentar como melhor solução a OTA, pensando fazer de todos nós uns OTÁrios...
Este é um exemplo típico daquilo que Tom Peters chama "Parálise pela análise". Fui formado no são principio de que mais vale tomar uma má decisão do que não tomar nenhuma, pelo que toda a entropia adicionada ao processo me irrita profundamente.
Eu não quero um aeroporto dentro de Lisboa.È,decididamente um perigo.
Quantos aos outros com Feng Shui,Shiatsu ,Tai-Chi tanto faz.
Em qualquer local haverá sempre LOBIS a FAVOR e LOBIS CONTRA
Quero um qulaquer aeroporto,mas MADURO!
Eu não quero um aeroporto dentro de Lisboa.È,decididamente um perigo.
Quantos aos outros com Feng Shui,Shiatsu ,Tai-Chi tanto faz.
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