sexta-feira, 13 de abril de 2007

SATURAÇÃO POLÍTICA

Os episódios à volta da licenciatura do Primeiro-Ministro José Sócrates, mesmo quando lidos com a "tolerância metódica" do Pedro Norton - de que, de resto, comungo basicamente -, merecem reflexão. Reflexão pausada, distanciada, quiçá fria. Mas há coisas que podem registar-se a quente, seja porque o ferro já não está em brasa, seja porque podem sempre ser corrigidas.
No princípio, era a blogosfera. A blogosfera e o seu capital de fábula.
No tempo inicial, foi a surpresa e o efeito "bomba que não deflagrou" da primeira das manchetes do Público. O silêncio mediático - com o peso da suspeita de um condicionamento governamental ou do adormecimento geral - e os comentários em surdina ou 'sotto voce' de corredores e bastidores.
Depois, veio a sensação de coragem de "peito aberto" do Expresso e a sequela dos editoriais de José Manuel Fernandes. Entre as elites - ou pseudo-elites - começou a gerar-se a estupefacção e a indignação. Perguntas, listas e resmas de perguntas, a antevisão de meias e más respostas. Aguçava-se a curiosidade e instalava-se a incredulidade. Não apenas sobre o tema, mas outrossim sobre as pressões para evitar o seu tratamento.
A seguir, veio a "democratização da crise". E já não havia jornal, nem rádio, nem televisão que não fustigasse as massas com as versões, reversões e perversões do processo. A crise caiu na rua; o caso passou a anedota e converteu-se em refrão predilecto das cantigas de escárnio e maldizer.
O ruído foi tanto, a poluição sonora foi tão intensa, que, no dia em que Sócrates se dispôs a dar explicações, já ninguém suportava ou tolerava o tema. A entrevista, mais do que o estatuto de um esclarecimento, ganhou o sentido do "alívio". Como quem diz: "Acabou. Pronto, não se fala mais nisto."
O povo, para quem "eles" "são todos iguais", está cansado da política e, mais ainda, dos políticos. A mesma saturação que motiva o seu desinteresse, é causa do seu alívio.
A saturação política - com a política, com os políticos e com a classe política - é o lastro e o rastro mais evidente - e nada surpreendente - destes episódios e da sua maior ou menor gravidade.
Sócrates - que tudo fez para ser e parecer diferente - revelou-se tão indistintamente igual, que acaba tolerado.
Continuamos nas margens e nas franjas da diferença. À espreita da diferença. À espera dela.

1 comentários:

Anónimo disse...

Não gostei de ver o PM de Portugal com as notas na mão a provar que tinha estudado. Mas, a bem ver, essa tem sido toda a sua vida. Parecece-me claro que o actual PM estudou o menos possível na sua uventude, não por dificuldades económicas ou de saúde, porque estava a trabalhar ou por um imperativo político. Simplesmente porque não quis. Mas sempre reconheceu essa falha que se avolumou quando passou a fazer parte do Governo. Tenta corrigi-la desde então. Primeiro como deve ser, depois por via da facilidade na Independente e, finalmente, devo louvar, com o MBA aos 45 anos. Ficou-lhe o pecado original: ser reconhecido como engenheiro com meias palavras (AR e num perfil que escrevi sobre ele n'O Independente); com meios cursos (Pós graduação) com meias universidades (Independente) e, finalmente, com as notas na mão na TV, humilhando-se e humilhando Portugal.