Mistérios dos Ministérios
Há alguns dias, na sequência de uma inflação de propostas originais para novos ministérios em França, o Le Monde recordava que os percursores tinham sido os Monty Python com o "Ministério dos Passos Ridículos" (cujo "titular" era John Cleese). Não me interessa discutir a bondade das ideias e preocupações que estarão por detrás de tais propostas. O que acho interessante é esta mudança dos símbolos que servem para dar identidade a políticas e políticos. Hoje é o nome de um ministério como podia ser uma imagem ou um gesto. O que parece claro é a perda de importância da palavra que durante muitos anos foi a estrela da política.
A política sempre viveu de metáforas. Nem podia ser de outra forma. Ser cidadão não pode nem deve exigir ter conhecimentos de filosofia política ou de qualquer outra especialidade mais ou menos próxima da substância da política. E também não temos tempo para nos especializarmos em segurança social, economia, educação, política de saúde etc. A política é assim uma forma de tradução. Ela depende de metáforas para comunicar de forma massificada ideologias e propostas políticas aos cidadãos. Só que estas metáforas devem ser verdadeiras. Para isso elas têm de ser controláveis: tem de existir uma ideia que possa ser apreendida e testada para além da metáfora. Caso contrário, a política torna-se na arte de apresentar os desejos como promessas e a não concretização das promessas como alterações de circunstâncias. O risco da simplificação não controlada da política é o populismo. É a substituição das metáforas por desejos e a repetição destes de forma tão exaustiva que os chegamos a confundir com uma ideia e uma proposta política. O populismo é também uma manipulação ideológica dos sentimentos: a eliminação da razão do espaço público.
O desafio da boa política é simplificar sem falsificar. Por isso, mudar o nome de um ministério só faz sentido se isso identificar uma real mudança de política. Se servir apenas para exprimir desejos eu já tenho constituído o governo mais popular de sempre: o Ministério das Obras Públicas passa a Ministério do que Gostaríamos de Ter; o Ministério da Saúde a Ministério (rima com mistério) da Vida Eterna; o Ministério da Justiça será Ministério de Justiça e o Ambiente passa a Bem Estar. Já agora, o Ministério do Trabalho poderia ser o Ministério do Ócio.
Daí a importância daqueles que um politólogo norte-americano chamou um dia os editores da democracia; aqueles que nos ajudam a contextualizar e verificar a verdade das metáforas da política: como os jornais, colunistas e especialistas. Aqueles que, em certa medida, "arbitram" o espaço público no qual se confronta a política. Num momento em que, por toda a Europa, se fala do regresso de algum populismo era bom que não nos preocupássemos apenas em fazer política. Será importante haver também quem esteja disposto a ajudar apenas a contextualiza-la. Eis um bom anúncio para os nossos jornais:
"Procuram-se editores do espaço público. Função: contribuir para a política sem fazer política."
A política sempre viveu de metáforas. Nem podia ser de outra forma. Ser cidadão não pode nem deve exigir ter conhecimentos de filosofia política ou de qualquer outra especialidade mais ou menos próxima da substância da política. E também não temos tempo para nos especializarmos em segurança social, economia, educação, política de saúde etc. A política é assim uma forma de tradução. Ela depende de metáforas para comunicar de forma massificada ideologias e propostas políticas aos cidadãos. Só que estas metáforas devem ser verdadeiras. Para isso elas têm de ser controláveis: tem de existir uma ideia que possa ser apreendida e testada para além da metáfora. Caso contrário, a política torna-se na arte de apresentar os desejos como promessas e a não concretização das promessas como alterações de circunstâncias. O risco da simplificação não controlada da política é o populismo. É a substituição das metáforas por desejos e a repetição destes de forma tão exaustiva que os chegamos a confundir com uma ideia e uma proposta política. O populismo é também uma manipulação ideológica dos sentimentos: a eliminação da razão do espaço público.
O desafio da boa política é simplificar sem falsificar. Por isso, mudar o nome de um ministério só faz sentido se isso identificar uma real mudança de política. Se servir apenas para exprimir desejos eu já tenho constituído o governo mais popular de sempre: o Ministério das Obras Públicas passa a Ministério do que Gostaríamos de Ter; o Ministério da Saúde a Ministério (rima com mistério) da Vida Eterna; o Ministério da Justiça será Ministério de Justiça e o Ambiente passa a Bem Estar. Já agora, o Ministério do Trabalho poderia ser o Ministério do Ócio.
Daí a importância daqueles que um politólogo norte-americano chamou um dia os editores da democracia; aqueles que nos ajudam a contextualizar e verificar a verdade das metáforas da política: como os jornais, colunistas e especialistas. Aqueles que, em certa medida, "arbitram" o espaço público no qual se confronta a política. Num momento em que, por toda a Europa, se fala do regresso de algum populismo era bom que não nos preocupássemos apenas em fazer política. Será importante haver também quem esteja disposto a ajudar apenas a contextualiza-la. Eis um bom anúncio para os nossos jornais:
"Procuram-se editores do espaço público. Função: contribuir para a política sem fazer política."
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