terça-feira, 3 de abril de 2007

Polónia_ a verdade tem data?

Atravessar a Polónia, nestes dias, é acompanhar o dilema de um Povo sobre o calendário da sua verdade: importa seguir em frente, finalmente livre da sombra russa? Ou seguir em frente, finalmente livre dos polacos que com ela «conviveram»? (segundo o recente decreto que obriga à auto-denúncia dos colaboracionistas do regime soviético).

A elite e o homem da rua parecem recusar a ideia da caça às bruxas que já eliminou o novíssimo Primaz da Polónia e alguns membros do Governo. «Esta denúncia retardada é coisa de gente doente. Teria tido oportunidade no início dos anos 90, quando também os alemães abriram os arquivos da Stasi». Hoje a esperança, o desenvolvimento e o mérito histórico encontram uma simultaneidade nunca experimentada neste extraordinário País nascido, há dez séculos, quando um líder efémero se converteu ao Cristianismo. Esta acção parece desnecessária e até pouco cristã, pouco identitária.

Mas veja-se também o último Museu da Capital dedicado ao «Levantamento de Varsóvia» no Verão de 44. Oiça-se o som das bombas alemãs matando milhares de civis polacos enquanto as legendas das imagens de morte e destruição lembram que a data do levantamento surgiu por sugestão dos russos, que assistiram quietos à carnificina alemã no outro lado do rio Vistula para depois entrarem na cidade e a dominarem durante meio século. Veja-se a resistência do Cardeal Wyszynski, preso entre 53 e 56, e a voz de comando de JP II na primeira visita papal à Polónia, em 79: «como esquecer esses dias?», perguntava sem poupar indignação. E dava a receita: «A Polónia tem como pedra base uma palavra: Jesus Cristo». Mas a questão permanece: pode o perdão desconhecer o rosto do perdoado? Ou pode o Futuro ser construído na divisão mais íntima do seu Povo? O que mais esclarece: o amor ou a verdade?

1 comentários:

Gonçalo Magalhães Collaço disse...

«...para aprende não basta só ouvir por fora,é neces~´ario entender por dentro. Se a luz de dentro é muita, aprende-se muito; se pouca, aprende-se pouco; se nenhuma, nada. O mesmo nos acontece a nós.
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Porque vos parece que apareceu o Espírio Santo hoje sobre os Apóstolos, não só em linguas, mas em Línguas de fogo? porque as línguas fallam, o fogo alumia. Para converter almas não bastam só palavras, são necessárias palavras e luz. Se quando o pregador fala por fora, Espírito Santo alumia por dentro; se quando as nossas vão aos ouvidos, os raios da sua luz entram ao coração, logo se convere o mundo.
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Ille vos docebit omnia. Diz Cristo aos Apóstolos, que o Espirito Santo os ensinaá. E ser Cristo, ser o Filho de Deus o que diz estas palavras, faz segunda dificuldade à inteligência e azão delas. Ao Filho de Des, que é a segunda pessoa da Santíssima Trindade,, atribui-se a sabedoria; ao Espírito Santo, que é a terceira pessoa, o amor; e suposto isto, arece que a pessoa do Espírito Santo havia de encomendar o ofício de ensinar à pessoa do Filho, e não o Filho ao Espírito Santo. Queo amor encomende o ensinar à sabedoria, bem esta; mas a sabedoria encomendar o ensinar ao amor: Ille vos docebit? neste caso sim. Porque para ensinar homens infieis e bárbaros, ainda que é muito necessária a sabedoria, é muito mais necessário o amor. Para ensinar sempre é necessário amar e saber; porque quem não ama não quer; e quem não sabe, não pode.»

Padre António Vieira