II. Elites: função e atitudes.
Percebe-se assim a necessidade para a democracia das elites. O poder não se estabelece por si mesmo, mas fundamenta-se no melhor. Não é apenas o equilibro aritmético de forças que impera na sociedade.
Por outro lado, sendo uma realidade colectiva, não fica dependente do acaso de um profeta que surja do nada para lançar o princípio do melhor. Espera-se que haja um corpo social que o segregue. Que o anuncie, que o defenda.
O problema é que as elites podem ter várias atitudes perante o espaço social.
Umas vezes são predatórias. Querem conquistá-lo, dominá-lo. É o que acontece com os conquistadores de outros povos, os romanos, os europeus, mas igualmente todos os formadores de impérios. Mas é o que acontece quando as “vanguardas” pretendem dominar a mentalidade pública.
Outras vezes são servidoras. Servem os mecanismos do poder, ou pretendem servir o público em geral. O grande perigo reside no facto de muitas vezes ser difícil de diferenciar a atitude de serviço da de subserviência.
Outras ainda são indiferentes ao espaço público. A História está cheia de casos de elites que apenas desprezam o espaço público, como os cínicos, os epicuristas, os gimnofisitas na Antiguidade, mas igualmente as nobrezas em fase de decadência procurando apenas o prazer. Este tipo de atitude surge quando o ócio se transforma em finalidade exclusiva da elite, e em que esta é regida por um princípio de prazer. A reacção comum a este tipo de elite acaba por ser, depois de uma fase de fascínio, a da indiferença.
A atitude é importante como tópico de análise porque mostra que não há apenas um trabalho ético a ser assumido pela sociedade como um todo, mas as próprias elites têm de participar dele. Uma adequada dosagem de atitudes, variando a cada momento, é sempre a melhor forma de reintegração das elites e reforço do seu papel. A contínua prevalência de apenas uma delas redunda na repulsa, no desprezo e no descrédito.
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