III. Elites: modalidades
Historicamente encontro os seguintes tipos de elites:
a) De nascimento;
b) Intelectuais;
c) Vivenciais
d) Económicas.
É curiosa a imensa contradição da modernidade em relação às elites de nascimento. Recusam-nas, mas instauram princípios que apenas nelas se encontram na excelência. Com efeito, a modernidade idolatra a infância e a irracionalidade. Ora a elite de nascimento é a que se instaura desde a infância, em que o elemento diferenciador típico é a formação desde a infância, e em que o espaço do não dizível, do irracional, tem um lugar por definição.
a) De nascimento;
b) Intelectuais;
c) Vivenciais
d) Económicas.
É curiosa a imensa contradição da modernidade em relação às elites de nascimento. Recusam-nas, mas instauram princípios que apenas nelas se encontram na excelência. Com efeito, a modernidade idolatra a infância e a irracionalidade. Ora a elite de nascimento é a que se instaura desde a infância, em que o elemento diferenciador típico é a formação desde a infância, e em que o espaço do não dizível, do irracional, tem um lugar por definição.
O património fidalgo é por definição irracional, não é transmissível em escolas, por palavras. A atitude, os gestos, os gostos são elementos constitutivos desta elite, mas não se podem verter em regras formais; reconhecem-se como evidências, pura e simplesmente. Todos os manuais de etiqueta e boas maneiras são incompletos e geralmente são apenas ridículos. Não é a palavra o seu elemento adequado.
Pode-se achar ridículo mais uma vez que se refiram as elites de nascimento quando se fala de democracia. Mas estas tiveram um papel determinante na formação da “democracia” britânica (este conceito levar-nos-ia longe), na Alemanha contemporânea ainda se reserva um lugar de excepção em muitos Estados à nobreza de sangue, mesmo na laica França em muitas comunas os "maires" mais longevos são aristocratas.
As elites intelectuais caracterizam-se por deterem certos saberes e uma aptidão para a aprendizagem. Quais os saberes valorados positivamente, se o ferreiro na tribo africana, se a matemática e a ciência em geral na Alemanha Guilhermina diz muito sobre a sociedade que as constitui e acarinha, mas não muda o seu traço essencial: é o saber que é valorizado.
As elites vivenciais caracterizam-se por um determinado modo de vida. Se o monge ou o guerreiro, se o eremita (porque também este pode ser uma figura colectiva), se o cavaleiro andante, mesmo sob a forma do médico sem fronteiras, mais uma vez diz muito sobre o que é valorado positivamente por uma sociedade. Mas mais uma vez este não é o facto estruturalmente determinante. É o modo de vida que constitui este tipo de elites.
As elites económicas caracterizam-se pelo que têm. Não tanto pela quantidade do que têm, mas por deterem o que é economicamente considerado valioso. Quando o dinheiro é desprezado, o judeu que o tem em abundância é desprezado. A terra é bem mais valorizada. O marajá indiano tem mais pedras preciosas que o industrial de Manchester, mas fora da Índia não constitui uma elite em sentido próprio. O industrial e, mais tarde, o financeiro da City são mais positivamente valorizados.
Duas elites parecem estar aqui omitidas. A da beleza física e as políticas.
A explicação é simples e não há omissão. É a que a da beleza física não gera corpo colectivo. Falta um dos elementos para ser elite, portanto. O ideal clássico do kalos kai agathos, do belo e do bom, levava à apreciação da beleza, mas nem os gregos aceitavam que houvesse um grupo colectivo dos belos. A beleza física mantém-se como dado individual. Quando muito no plano micro social da adolescência, o grupo dos bonitos opõem-se ao dos feiosos. Mas não tem tido historicamente a força para impor um paradigma colectivo.
A omissão das elites políticas é que espantaria mais o comentador repleto de banalidades. Mas se bem virmos, essa elite enquanto tal nunca existiu, é mero equívoco. Um político que seja de baixa origem e ignaro e sórdido no modo de vida e pelintra, que o seja em cúmulo, nunca seria visto como elite. Por isso todos os que conquistam o poder político se procuram associar a um dos tipos de elites. Ou fazendo um casamento nobre, como os bárbaros que se misturaram com as nobrezas galo ou hispano-romana, ou procurando cultivar-se, como Odoacro quando domina Roma, ou definindo um padrão de justiça ou de dissolução como modo de vida, como Augusto ou mesmo Heliogábalo. O detentor do poder pretende-se paradigma do modo de vida, seja ele o distanciado do povo (como o sátrapa persa) seja o próximo do povo (como os “primeiros ministros” holandeses do século XVII). Ou então enfardam-se de riquezas, o que é o fenómeno mais característicos de sociedades por vezes sofisticadas mas estéreis culturalmente como o de muitos impérios centrais como os turcófonos.
De uma forma ou de outra, a classe política, para ser elite, não se consegue bastar com ser classe política. Carece que ir beber a pelo menos uma, quando não a várias das modalidades de elites antes referidas.
Por isso é sempre erróneo falar de elites políticas. Por si só são meros ocupantes de cargos. Se nada mais são que isso, apenas são vistos como usurpadores, meros ocupantes. Não como elites.
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