terça-feira, 17 de abril de 2007

I. Elites: o que são


A democracia lida mal com as elites. Sobretudo com a sua teorização. No entanto, nenhum regime precisa mais de elites que a democracia. Uma ditadura não se descaracteriza por não as ter. Sob o ponto de vista da vivência individual pouco muda estar dependente do sultão ou de um chefe de piratas barbarescos. No entanto, uma democracia sem elites cai na demagogia, acabando na tirania mais tarde ou mais cedo.

Por isso é preciso pensar as elites de uma forma um pouco mais profunda. É essa uma condição necessária da sobrevivência da democracia.

A primeira questão que nos temos de colocar é o que são. As elites caracterizam-se por duas traves mestras: o colectivo e o melhor.

A elite nunca é uma pessoa isolada. Camões não é uma elite. A superioridade reconhecida individualmente a uma pessoa retira-lhe o estatuto de elite. Está isolada, fora do colectivo. Não é por acaso que nas elites se usa uma relação: a de pertença. Alguém pertence às elites. Como um elemento pertence a um conjunto. Cristo não pertence a uma elite. Cristo está sozinho no seu modelo. Por isso quando falamos de elites falamos por definição de um grupo social. Logo, de uma força social consistente cujas vicissitudes e etologia não se resume a uma biografia pessoal.

Sendo um elemento colectivo, cada biografia individual se pode confrontar com esse grupo. O grau em que se pertence, o modo, ou então o grau ou o modo em que não se pertence a essa elite.

Em segundo lugar a elite caracteriza-se pelo melhor. Ser uma elite não significa forçosamente deter poder. As elites podem aliás ser completamente dele destituídas. Os sayyd, descendentes do profeta, no Egipto dos mamelucos mereciam veneração, mas não detinham quaisquer cargos de poder. Em muitos Estados da Índia os brâmanes não governavam.

A existência de uma elite impõe o princípio do melhor numa sociedade, na medida em que a própria existência de elites seja consagrada. Nesse sentido é um desafio e um estímulo para a democracia.

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