França 2007: impressões a quente
Nada como uma noite eleitoral. Desta, e para já, seis notas soltas.
Em primeiro lugar, o impressionante nível de afluência às urnas. Numa Europa descrente e distante da participação política, 85% é algo verdadeiramente marcante (para alguns comentadores, reconciliação tributária do recente aprofundamento da experiência referendária).
Em segundo lugar, a emergência de uma nova geração. De protagonistas (o esforço dos que não eram novos foi parecê-lo 'a outrance'), mas também de discursos (com novos temas, novos enfoques, novos estilos) e de métodos (neste aspecto, o papel da internet nas campanhas de Sarcozy e de Ségolène foi eloquente).
Em terceiro lugar, a centralidade do tema da mudança. De maneiras diferentes, os três candidatos mais votados apostaram na urgência de mudar a política e de refundar a República.
Em quarto lugar, a expansão do arco democrático à custa do esvaziamento de propostas não sistémicas (exemplo paroxístico, o resultado de Sarcozy em prejuízo de Le Pen).
Em quinto lugar, a substancialização do discurso em torno de valores e de projectos de sociedade. Sarcozy e Bayrou foram, neste aspecto, as grandes referências. Ségolène, coitada, foi apenas o que podia ser: uma encenação, frouxa e vazia como todas as encenações que não são mais do que isso (Montebourg, há que reconhecer, merecia ter dado a cara por alguém mais consistente).
Em sexto lugar, a tónica de uma ideia sobre França e o apelo ao envolvimento directo dos Franceses na construção do futuro (na sua intervenção, em cima dos primeiros resultados, Sarcozy falava em sonho…). Depois de décadas de perda económica, social e cultural, a França ameaça poder vencer uma enquistada crise de confiança. Há um voluntarismo patriótico no ar e, com ele, uma mobilização que espreita. Mas agora longe da vulgata nacionalista dos radicais: é outra coisa, inclusiva, focada numa ideia de projecto, enquadrada pela integração europeia… É algo novo e a que importa estar atento, porque é bem capaz de vir a dar frutos.
Mas, para já, vamos ver o que dá o piscar de olhos de Sarcozy ao centro e ao centro-esquerda. Muito mais decisivo, certamente, do que as meras contas que possa fazer com Bayrou…
1 comentários:
Mudança...mudança não sei.. já partilho o que disse ontem o Le PEn, ficam sempre os que estão ou estiveram no poder...mudança?
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