segunda-feira, 9 de abril de 2007

A crise do Suez. J Buescu.

Ainda bem que alguém refere a crise do Suez.

O lugar comum é dizer que o Reino Unido é servil aos americanos como se fosse verdade de longo prazo. Esta relação é bem mais frágil do que se julga e mais matizada do que se costuma enunciar.
A verdade é que este episódio mostra que a França e a Inglaterra são os mais antigos aliados na Europa.
Os ingleses pretenderam até aos anos 60 ter um papel de opositor ao comunismo independente, de que é sinal simbólico (com o seu quê de ridículo, é certo) a figura de James Bond.
O Reino Unido apenas se torna aliado e verdadeiro lugar-tenente dos Estados Unidos desde o fim dos anos 70, numa má interpretação (à letra como não podia deixar de ser) do pensamento de Churchill.
Os Estados Unidos queriam ser aliados na Europa, mas em termos definidos pelos Estados Unidos, no que fez muito bem, porque assim fazem todas as potências dominantes. Acabando com o colonialismo, por forma a ter melhor domínio das antigas colónias europeias, nomeadamente, apesar do elemento puritano que contribuiu para esse efeito, sob o ponto de vista ideológico. A Guerra do Suez é apenas mais uma entre as humilhações infligidas ao Reino Unido (e à França, mas a da IV República, não à gaullista). As negociações de Bretton Woods por Keynes mostram os muito diferentes mundo mental e interesses de um lado e de outro do Atlântico.
Apenas não concordo com a comparação entre a guerra do Iraque e o Suez. Seria o mesmo que comparar Crasso a ser obrigado a beber ouro líquido com Juliano o Apóstata. A Guerra do Iraque é uma guerra de conquista. A do Suez uma guerra de manutenção e potências coloniais em dificuldades. A melhor comparação seria a de achar que os americanos se julgaram Pompeu conquistando a Ásia Menor e acabaram como Crasso tendo de beber o ouro líquido (negro, neste caso).
Mais uma vez a questão não é ser amigo da paz ou dos americanos, mas saber cuidar dos seu próprios interesses. Para a Europa, vizinha mediata deste Médio Oriente, duvido que esteja nos nossos interesses. Mas essa é uma outra demonstração.


Alexandre Brandão da Veiga

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