quarta-feira, 11 de abril de 2007

Ciência e liberdade

A ciência vive inevitavelmente de extrapolação. Ninguém viu todas as quedas dos graves e todas as divisões celulares. Temos boas razões para pensar que mesmo nos casos a que não assistimos, e de forma controlada, as coisas se passam de forma no mínimo muito similar às que observámos. Mas é por definição impossível fazer prova empírica disso. Por isso a ciência nunca é só empírica.

Mas a ciência tem limites. Ou melhor, e mais importante que isso, a ciência só existe porque se impõe limites. A eficácia do método científico reside exactamente na suspensão de questões, na exclusão de conceitos, na recusa de certos métodos.

O lugar comum diz que a ciência não explica, apenas descreve. Esta observação é pobre sob o ponto de vista lógico. O que é explicação num sistema lógico passa a ser descrição num sistema lógico superior. Os limites não estão aqui.

Os limites encontram-se nas quatro províncias clássicas do sentido: mundo, alma, Deus e ser. Nestas províncias, e em todos os campos que nelas estão, a ciência é impotente. A sua força reside exactamente em não se introduzir nestas províncias. A liberdade é da ordem do ser. Por isso não é conceito científico, nem o pode ser.

É evidente que existem conceitos anfíbios, que só aparentemente são os mesmos em ciência e fora dela. A unidade pode ser estudada matematicamente, o uno não. A morte tem significado bem diferente quando se trata de uma célula ou de um ser humano. Neste momento em que escrevo estou a matar células minhas e um sem número de bactérias que se encontram dentro do meu corpo. Este facto é biológico. Não centra o tema da morte enquanto tal.

Por isso, que a ciência se preocupe com o tema da liberdade não deve preocupar a liberdade. Que a ciência se preocupe com temas que a transcendem não demonstra a grandeza da ciência nos seus resultados, mas apenas nas suas motivações. E mostra apenas que por definição as motivações da ciência não são nunca científicas. Apenas isso.

Mas sempre que a ciência quis caçar em coutada alheia deixou de o ser. Que o caçador cace porque tem fome é natural. Mas se julga que atirar a sua fome à caça vai fazer mossa à dita pode deixar-se morrer de inanição.





Alexandre Brandão da Veiga

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