quarta-feira, 11 de abril de 2007

Que trabalhos para os dias de uma geração?

É absolutamente necessário não desatender esta questão e procurar sobrepô-la à tentação jornalística, aos sentimentos pessoais, às visões fatalistas e a outras formas de ser conformista.
Há nesta nossa iniciativa que aceitou ser geracional um claro risco de exposição pessoal mas há, também, uma confiança na capacidade de pensarmos os princípios filosóficos, artísticos, religiosos e políticos para que o nosso tempo requer o melhor esforço e a melhor lucidez. Não temos idade nem para ingenuidades nem para calculismos.
O nosso contributo não se pode perder nas refregas do dia-a-dia, já em si, ardis do condicionamento mental e do conformismo ainda que indignado. O que poderá haver de relevante na nossa geração é o trabalho a realizar nos seus dias. Não vamos inventar o mundo mas temos de inventar o nosso tempo. Uma nova visão do real e do ideal, o diálogo com a história, o pensamento a partir de princípios, a tradição, afinal, da nossa civilização, revigorada numa nova síntese; espera-se uma nova linha de abordagem e de formação de quadros mentais, que tenha em conta o estado em que estamos, o progresso que importa promover e desencadeie um debate de ideias que ganhe lugar na praça pública e convoque as consciências.

Importa fazer os trabalhos, como um corredor de fundo, ao longo dos dias intermináveis com a mesma motivação do maratonista que derruba minutos em quilómetros sucessivos.
Como vimos em O Fim do Recreio (GMC) não há já grande lugar a espantos com o que parece ainda espantar-nos. O nosso espanto é já só porque não queríamos mesmo acreditar no que já sabíamos ser como é e cuja confirmação só sublinha o que sabíamos mas não queríamos aceitar. Importa sair desta espécie de candura em que os bons sentimentos se indignam e seguir a laboriosa sugestão de relacionar trabalhos e dias (ABV) e dedicarmo-nos ao esforço de reconstituição, renovação e evolução espiritual.
O espaço público não precisa de mais contributos que entrem apenas no jogo vão dos choques de opiniões, ele é bastamente inundado dessa ineficácia opinante. A re-edificação do espaço público, aqui já proposta como reinvenção (SG), será com certeza uma tarefa muito difícil, como foi na Grécia de Sócrates, em que o domínio da opinião imperava sobre o saber autêntico entre os dominantes sofistas (seriam universitários?), aos quais o Filósofo impunha nos seus diálogos a exigência do “Conhece-te a ti mesmo” para que o opinar irrelevante mascarado de sábio descesse à sua dimensão de papagaio politicamente correcto e mergulhado no fundo de si compreendesse que sem se conhecer a si mesmo ninguém chega ao conhecimento universal — o homem não é uma inutilidade num mundo feito (Leonardo Coimbra). Os poderosos mas pobres sofistas caiam em sucessivas contradições até que enraivecidos reconheciam a sua ignorância mas alguns não deixaram de se vingar. Já então era a História (descrição de guerras) ou as Artes (Poética), ou a Política que enfeitava a Agora. E, foi nesse meio adverso que um, com risco de vida, se opôs a todos.
Nos nossos jornais, fóruns e televisões, mantêm-se outros sofistas nestes mesmos temas em que todos parecem ser letrados e raros aparecem capazes de os enfrentar. O espaço público só se re-edificará se o que se lhe opuser for um projecto que traga novas finalidades ao diálogo e ao confronto, e à própria ideia do convívio. Há muitos diagnósticos feitos para concluir da impotência de qualquer acção. Diagnósticos derrotados. O valor do diagnóstico crítico é o de fazer renascer uma nova luz sobre os escombros das opiniões velhas. A crítica autêntica faz-se com uma obra que supere a obra criticada. Confiar na razão e na intuição é o trabalho dos dias que se seguem.

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