segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

A grande escola de tradução de Toledo

 

  

Jornalistas, políticos e académicos celebram a grande escola de tradução de Toledo a que devemos a tradução em latim das obras gregas por via árabe e mostra a grande tolerância da Espanha das três religiões do tempo da dominação muçulmana. Nada há mais a pensar a propósito, e devemos a partir daqui apenas celebrar a «diversidade». 

 

Se isto basta a gente bastante a mim não basta.

 

Vejamos com atenção o argumento. A tradução em latim de obras árabes? E porque não a tradução em árabe de obras latinas? A resposta do plebeu é fácil de adivinhar. É que a civilização árabe era superior à latina. Seja. Daqui resultam duas conclusões: há civilizações superiores a outras, e uma civilização superior não tem de perder tempo a estudar as inferiores. 

 

Se o moderno aceita este argumento vivo bem com ele. Tomo dele bem nota para o usar noutras ocasiões.

 

O segundo aspecto tem a ver com a tradução das obras gregas. «É a tradutores de Toledo que devemos a tradução de obras gregas». Isto esquece três coisas 

1)    1) Há continuidade de cultura grega no Sul da Itália 

2)    2) Foi o islão que partiu o Mediterrâneo e dificultou a ligação entre a cultura grega e a latina 

3)   3) Os tradutores não eram exclusivamente muçulmanos, mas cristãos e judeus participam activamente nesta tradução 

 

Mas falta um elemento mais divertido. É que esta escola de tradução de Toledo começa a ser realmente importante a partir do século XII. Ora Toledo passa a ser cristã desde 1085. Ou seja, o dito ambiente de tolerância e troca cultural aberto é... cristão

 

Caem de surpresa os jornalistas, políticos e académicos? Não. Os factos são-lhes incomodativos. Já decidiram que o islão é tolerante, que contribui para a riqueza cultural da Europa e por isso em desespero irão um dia falar da grande escola de tradução de Albarraque de Baixo sob dominação muçulmana, mesmo que este nunca tenha tido escola de tradução, mesmo que nunca tenha tido dominação muçulmana e mesmo que em boa verdade Albarraque de Baixo nunca tenha existido. 

 

Alexandre Brandão da Veiga

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