Atlântida e Atenas
A
história que vem contada as crianças é a de que um sacerdote egípcio teria dito
ao ateniense Sólon que:
1) 1) Os gregos seriam sempre crianças;
2) 2) Tinha havido uma grande civilização
a Atlântida.
Ambas
são verdade. O problema são as ilações que os literatos delas retiram:
1) 1) Os gregos são bem mais recentes que
os egípcios;
2) 2) A sua memória é mais curta;
3) 3) Só fora da Grécia houve uma
civilização que pôde confrontar-se com a egípcia.
O
sorriso masoquista da maioria dos leitores aparece aqui. Veja se como a Europa
é nova-rica perante as grandes civilizações orientais. Como o Ex Oriente lux
faz suspirar os laicos, como se sentem em casa se a civilização vier de terras bíblicas...
Mas
esta ideia é destinada a vários descalabros.
Que,
falando da Grécia, se pense na Europa é acto falhado para quem acha que a
Europa é bem mais recente e só começa com o cristianismo. Está a confessar que
para si a Europa é bem mais antiga do que proclama. Que para lhe dar um
estatuto de nova-rica tenha de ir a tempos cristãos, quando ao mesmo tempo diz
que o cristianismo não é constitutivo da Europa outro seu fracasso intelectual.
Cabeças cheias de contradicções.
Que
a memória do grego seja mais curta que a egípcia resulta claro do texto. Do
próprio Aristóteles há textos de que resulta que os gregos tinham noção de que,
poucos séculos antes, tinham vindo de uma época turva, convalescente. Mas
memória mais curta não significa História mais curta. Significa apenas que não
se tem memória da sua História.
O
que diz o sacerdote egípcio? Vocês atenienses esqueceram-se da vossa grande
História, quando Atenas era poderosa e muito desenvolvida. O vosso problema não
é vir de baixo, mas o de se terem esquecido que vêm de cima.
Se
os gregos serão eternas crianças, não é por estarem na infância da civilização,
mas por se terem esquecido que vieram do contrário.
A
Atlântida era um grande civilização, mas Atenas também, e houve mesmo uma
guerra entre elas.
As
ilações dos literatos, salvo a da memória curta são, pois, todas falsas. O
problema dos gregos não é de terem uma História inglória ou curta mas de se
terem esquecido de quão antiga e gloriosa era.
O
masoquismo europeu fica aqui embaraçado. Porque o mito popular enleva a
Atlântida e não dá lugar à grande Atenas? Quer dizer talvez que os gregos
actuais, ou seja, os europeus, ainda são eternas crianças e se esquecem de quão
antiga e gloriosa a sua História tão ou mais antiga que a egípcia.
Aqui
tinha razão Chateaubriand quando dizia que se os europeus vissem a sua História
como europeus se veriam mais antigos que a China.
Aqui
pode ter razão quem veja nesta História a marca da queda da civilização do
Bronze no fim do século XII a.C., em que, de todas as grandes culturas, a
helénica, micénica e cretense, a hitita, a mesopotâmica e a egípcia, só a
última resistiu, mesmo que pagando o preço de uma forte decadência.
Que
os gregos dos séculos V e IV a.C. tivessem memória de um descalabro e negrume
histórico é inevitável. Ao contrário dos romanos, que se sabem de longa História
e migrantes, os gregos julgam-se de mais curta. A aristocrática Esparta vê se
descendente de migrantes dórios, a democrática Atenas vê se nascida da terra
autóctone, racicamente pura. Os nazis tinham tanto interesse na democracia ateniense
quanto na aristocracia espartana e com boas razões.
Lido
o texto directamente (Timeu 21E-26E), sem as glosas das glosas que
satisfazem os literatos, revela-nos uma História bem diferente. E uma História
que choca o transeunte da cultura. Mas se esse europeu se sente confortável em
ser chamado de novo-rico, vindo de baixa cultura e sempre inferior a outros,
talvez esteja a ser justo. Mas consigo mesmo. Não com os seus parceiros de
civilização que gostaria de consigo arrastar na lama.
Alexandre
Brandão da Veiga
Atlântida
e Atenas
A
história que vem contada as crianças é a de que um sacerdote egípcio teria dito
ao ateniense Sólon que:
1)
Os gregos seriam sempre crianças;
2)
Tinha havido uma grande civilização
a Atlântida.
Ambas
são verdade. O problema são as ilações que os literatos delas retiram:
1)
Os gregos são bem mais recentes que
os egípcios;
2)
A sua memória é mais curta;
3)
Só fora da Grécia houve uma
civilização que pôde confrontar-se com a egípcia.
O
sorriso masoquista da maioria dos leitores aparece aqui. Veja se como a Europa
é nova-rica perante as grandes civilizações orientais. Como o Ex Oriente lux
faz suspirar os laicos, como se sentem em casa se a civilização vier de terras bíblicas...
Mas
esta ideia é destinada a vários descalabros.
Que,
falando da Grécia, se pense na Europa é acto falhado para quem acha que a
Europa é bem mais recente e só começa com o cristianismo. Está a confessar que
para si a Europa é bem mais antiga do que proclama. Que para lhe dar um
estatuto de nova-rica tenha de ir a tempos cristãos, quando ao mesmo tempo diz
que o cristianismo não é constitutivo da Europa outro seu fracasso intelectual.
Cabeças cheias de contradicções.
Que
a memória do grego seja mais curta que a egípcia resulta claro do texto. Do
próprio Aristóteles há textos de que resulta que os gregos tinham noção de que,
poucos séculos antes, tinham vindo de uma época turva, convalescente. Mas
memória mais curta não significa História mais curta. Significa apenas que não
se tem memória da sua História.
O
que diz o sacerdote egípcio? Vocês atenienses esqueceram-se da vossa grande
História, quando Atenas era poderosa e muito desenvolvida. O vosso problema não
é vir de baixo, mas o de se terem esquecido que vêm de cima.
Se
os gregos serão eternas crianças, não é por estarem na infância da civilização,
mas por se terem esquecido que vieram do contrário.
A
Atlântida era um grande civilização, mas Atenas também, e houve mesmo uma
guerra entre elas.
As
ilações dos literatos, salvo a da memória curta são, pois, todas falsas. O
problema dos gregos não é de terem uma História inglória ou curta mas de se
terem esquecido de quão antiga e gloriosa era.
O
masoquismo europeu fica aqui embaraçado. Porque o mito popular enleva a
Atlântida e não dá lugar à grande Atenas? Quer dizer talvez que os gregos
actuais, ou seja, os europeus, ainda são eternas crianças e se esquecem de quão
antiga e gloriosa a sua História tão ou mais antiga que a egípcia.
Aqui
tinha razão Chateaubriand quando dizia que se os europeus vissem a sua História
como europeus se veriam mais antigos que a China.
Aqui
pode ter razão quem veja nesta História a marca da queda da civilização do
Bronze no fim do século XII a.C., em que, de todas as grandes culturas, a
helénica, micénica e cretense, a hitita, a mesopotâmica e a egípcia, só a
última resistiu, mesmo que pagando o preço de uma forte decadência.
Que
os gregos dos séculos V e IV a.C. tivessem memória de um descalabro e negrume
histórico é inevitável. Ao contrário dos romanos, que se sabem de longa História
e migrantes, os gregos julgam-se de mais curta. A aristocrática Esparta vê se
descendente de migrantes dórios, a democrática Atenas vê se nascida da terra
autóctone, racicamente pura. Os nazis tinham tanto interesse na democracia ateniense
quanto na aristocracia espartana e com boas razões.
Lido
o texto directamente (Timeu 21E-26E), sem as glosas das glosas que
satisfazem os literatos, revela-nos uma História bem diferente. E uma História
que choca o transeunte da cultura. Mas se esse europeu se sente confortável em
ser chamado de novo-rico, vindo de baixa cultura e sempre inferior a outros,
talvez esteja a ser justo. Mas consigo mesmo. Não com os seus parceiros de
civilização que gostaria de consigo arrastar na lama.
Alexandre
Brandão da Veiga
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