segunda-feira, 13 de julho de 2020

Budismo e neoplatonismo I






Parecem dois temas muito afastados do nosso quotidiano, ou temas para especialistas, ou título de tese de doutoramento, ou apenas excurso diletante. Como de outras vezes, não me interessa tanto ver o que são, mas que impactos têm na civilização europeia.


Os temas não são neutros, porque são usados, seja como modelo alternativo ao europeu, seja como encómio para a maravilhosa filosofia muçulmana que seria neoplatónica, e por isso parece ser inofensiva. É disso que se trata, de um concurso de inocuidades. Só é grande quem é no fundo irrelevante, e mais uma vez por aqui o pequeno burguês se denuncia perante o mundo. O islão não é agressivo porque é neoplatónico na essência. Cheira bem, é frase que parece ter relevância intelectual, e ninguém viu um neoplatónico com uma metralhadora, parece fofinho e inócuo. O transeunte fica ao mesmo tempo em atitude de admiração e repouso. É o que se pretende dele. O budismo dá soluções para o absurdo do cristianismo… E assim por diante.


Há obviamente diferenças muito importantes entre o budismo e o neoplatonismo. Mas, por mais diferentes que sejam, já no século II d.C. Santo Ireneu de Lyon respondeu por antecipação aos perigos de um e de outro: o desprezo do corpo é o seu vicio, a incoerência na descida.


Desprezo do corpo? Mas a nossa época que é tão dada ao corpo, nós que nos libertámos da opressão judaico-cristã do corpo… Eu sei que as pessoas gostam desta ideia de Hitler e Himmler, mas temos de ser um pouco mais sérios. Para um budista este corpo é apenas uma veste que é despida com a morte. Deixamos de ter qualquer ligação com ele depois de mortos. É mero instrumento, e em última análise impecilho, ou na melhor das hipóteses irrelevante. Faz parte do véu de Maya, da ilusão. Para o neoplatonismo o mundo físico pode ter a sua beleza e anunciar a beleza verdadeira das Ideias, do Uno, mas Plotino tinha vergonha de ter um corpo, e todos os neoplatonistas dizem que o corpo é coisa para ser abandonada em nome da nossa verdadeira natureza, que é divina e não corpórea. Um e outro desprezam o corpo como transitório, menor, falsificador do nosso estatuto.


O pequeno burguês com isto afirma que despreza o corpo, o seu e o dos outros, e bem sabemos que tem razão, porque os espelhos só lhe podem dar razão.

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