Budismo e neoplatonismo I
Parecem dois temas muito afastados
do nosso quotidiano, ou temas para especialistas, ou título de tese de doutoramento,
ou apenas excurso diletante. Como de outras vezes, não me interessa tanto ver o
que são, mas que impactos têm na civilização europeia.
Os temas não são neutros,
porque são usados, seja como modelo alternativo ao europeu, seja como encómio
para a maravilhosa filosofia muçulmana que seria neoplatónica, e por isso
parece ser inofensiva. É disso que se trata, de um concurso de inocuidades. Só
é grande quem é no fundo irrelevante, e mais uma vez por aqui o pequeno burguês
se denuncia perante o mundo. O islão não é agressivo porque é neoplatónico na essência.
Cheira bem, é frase que parece ter relevância intelectual, e ninguém viu um neoplatónico
com uma metralhadora, parece fofinho e inócuo. O transeunte fica ao mesmo tempo
em atitude de admiração e repouso. É o que se pretende dele. O budismo dá soluções
para o absurdo do cristianismo… E assim por diante.
Há obviamente diferenças
muito importantes entre o budismo e o neoplatonismo. Mas, por mais diferentes que
sejam, já no século II d.C. Santo Ireneu de Lyon respondeu por antecipação aos
perigos de um e de outro: o desprezo do corpo é o seu vicio, a incoerência na
descida.
Desprezo do corpo? Mas a
nossa época que é tão dada ao corpo, nós que nos libertámos da opressão judaico-cristã
do corpo… Eu sei que as pessoas gostam desta ideia de Hitler e Himmler, mas
temos de ser um pouco mais sérios. Para um budista este corpo é apenas uma veste
que é despida com a morte. Deixamos de ter qualquer ligação com ele depois de mortos.
É mero instrumento, e em última análise impecilho, ou na melhor das hipóteses
irrelevante. Faz parte do véu de Maya, da ilusão. Para o neoplatonismo o mundo físico
pode ter a sua beleza e anunciar a beleza verdadeira das Ideias, do Uno, mas
Plotino tinha vergonha de ter um corpo, e todos os neoplatonistas dizem que o
corpo é coisa para ser abandonada em nome da nossa verdadeira natureza, que é divina
e não corpórea. Um e outro desprezam o corpo como transitório, menor, falsificador
do nosso estatuto.
O pequeno burguês com isto
afirma que despreza o corpo, o seu e o dos outros, e bem sabemos que tem razão,
porque os espelhos só lhe podem dar razão.
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