O Brexit e a arimética
Haveria muito a dizer
sobre o Brexit e muito já o disse no passado e muito terei eu para dizer. Mas,
mais importante agora que o Brexit, é ver que instrumentos intelectuais têm os publicistas
para o interpretarem. Os analistas políticos dizem: O Brexit corresponde à saída de 19 países da União Europeia. A coisa
parece ser de monta. Fazemos as contas, há 28 países, parece que ficamos com 9.
Refaçamos as contas. Como
se pode chegar a tal resultado? É
simples: seleccionam-se por ordem de menor dimensão económica os países da União,
vão-se somando os produtos nacionais e chega-se
até 19. Não fiz as contas, mas dou de barato.
Façamos a conta de outra
forma. O Brexit corresponde à saída de um país da União Europeia, se o ponto de
comparação for a França. Ou corresponde mesmo apenas à saída de 70% de um pais se o
termo de comparação for a Alemanha. Afinal nem sequer sai um país, mas apenas
70% de um país. Nada de grave.
Mas, se quisermos dar
mais ênfase, podemos usar como estalão os milhares de Celorico de Basto que
saem da União Europeia, ou os milhões de Carrasqueiras. É uma questão de
escolha. Fazer fracções à moda do merceeiro é sempre fácil; o difícil é enunciar a sua pertinência.
O que mostra este tipo de
observações? A falta de sentido crítico. É que, precisamente os que em alarme
referem que saem 19 países da União Europeia, não percebem que se estão a referir a um dos grandes factores do seu equilíbrio.
A distribuição de produtos nacionais totais, mas também a distribuição dos per capita, e contínua na União Europeia.
E isso é uma força, não uma fraqueza. Quer dizer que as oposições nunca podem
ser rígidas.
Para além dos vários recortes
não coincidirem, entre países marítimos e continentais, norte e sul, ricos e
pobres, grandes e pequenos, orientais e ocidentais, existe uma distribuição
continua de riqueza entre os países da União Europeia.
Já não era assim no II Reich
em que a prevalência da Prússia era esmagadora, só encontrando alguma
resistência na Baviera. Já não é assim, precisamente… no Reino Unido, em que o peso
da Inglaterra é esmagador por comparação com a
Escócia, o País de Gales e a Irlanda do Norte.
Esta continuidade é um elemento
estabilizador, exactamente porque torna as cesuras menos cortantes, as transições
graduais. Em certas coisas os países de média dimensão pensam como os grandes,
noutras como os pequenos, em certas
coisas os países com riqueza média per capita
pensam como os ricos, noutras pensam
como os pobres.
Quando numa união, seja
qual for, as cesuras são cortantes e coincidem em muitos planos, o efeito
natural é a ruptura. Quando o Sul dos Estados Unidos tinha, não apenas um modo
de produção, como produtos, como interesses comerciais como cultura social diferente
do Norte, houve uma guerra civil. Na União
Europeia estas cesuras são múltiplas, e não coincidentes, e são sempre
graduais. É um factor de coesão, não de ruptura.
Por isso, quando o leitor
ouvir da próxima vez: o Brexit é como saírem 19 países da União Europeia, pode
pensar, ou 70%, ou apenas um elo de continuidade, ou apenas um país fronteiriço,
ou apenas… E, não tendo toda a razão, estará a ter muito boa parte dela.
Alexandre Brandăo da
Veiga
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