terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Maldito liberalismo I



O liberalismo tem má imprensa na nossa época. Como esta não tem grande critério, não é de se levar muito a sério essa má imprensa. É a sina da imprensa a de não dever ser levada a sério.



A torto e a direito fala-se do neoliberalismo, quando a ideologia dominante tem muito pouco de liberal. Basta ver que é usurpada por potencias como a China no que lhe dá jeito. A abertura dos mercados não é em si um feito do liberalismo. A ideologia dominante não é liberal, nem relativista, nem aberta. É imperialista, dogmática e visa a dissolução, a entropia. Sendo parasitária, é apenas uma ideologia de segunda mão, como todos os «pós» e «neos».



Por isso o liberalismo não pode ser acusado pelo que não fez. Poucos são liberais. Liberais são-no apenas o que o são sob o ponto de vista económico, político e moral. E esses sempre foram minoritários, seja na Europa, seja nos Estados Unidos.



O liberalismo não é anglo-saxónico. Foi teorizado sobretudo por celtas, os escoceses, e por gente do continente europeu, ainda ao longo do século XX. As escolas austríacas, alemãs e italianas são muito mais relevantes na sua construção teórica que toda a literatura americana e inglesa na matéria. Hayek, Eucken e Bruno Leone são bem mais escorados que tudo o que Harvard ou a London School of Economics disseram sobre a matéria, já como Chateaubriand ou o irlandês Burke ou o suíço Constant disseram coisas mais profundas na matéria que Oxford.



Não vou, pois, tornar-me em mais um dos acusadores do liberalismo. Vou ser apenas crítico. Em relação ao liberalismo propriamente dito, não às suas imitações de pacotilha. E se o liberalismo merece críticas é porque é um movimento profundo. Se as merece é porque é um movimento feito por seres humanos. Se as merece, é porque é merecedor de atenção.



De tanto se criticar a excrescência que é o neoliberalismo, a crítica do liberalismo enquanto tal fica em silêncio. É esse silêncio que vou romper. E são três as críticas que tenho a fazer ao original, que a merece, porque merece muito, e também do bom e também do mau:

a)      Em primeiro lugar, padece de uma visão equívoca da escatologia.

b)      Em segundo, ignora a irreversibilidade.

c)      Em terceiro lugar, é etnocêntrico.

0 comentários: