O que diferencia o cristianismo das outras religiões? V
Não
me esqueci. Faltam os corolários. Vejamos o primeiro: apenas o cristianismo
resolve o problema do sofrimento sem lhe retirar substância.
É
que no meio de todo este arrazoado pode o leitor dizer-me: e o budismo? E eu pergunto
de que budismo fala o leitor? Se fala do budismo Mahayana, sobretudo o do Tibete,
nada há de nu nessa religião. Toca de usar as vestes tibetanas, falar as línguas
tibetanas, e seguir práticas étnicas tibetanas.
Se
falar no Budismo original, o Theravāda, independentemente de ter variantes
menos gloriosas como se vê pela violência do budismo birmano e do Ceilão, já falamos
de outra coisa. Muitas vezes as pessoas se perguntam se o budismo é uma religião
ou uma filosofia. O problema é que esta distinção só faz sentido para um
cristão. Um grego bem sabia da diferença entre filosofia e religião, mas cada
vez mais ao longo da Antiguidade seguir uma seita filosófica era adoptar um modo
de vida. Entre os cristãos ser marxista, fenomenologista, ou idealista não muda
nem as vestes nem os hábitos alimentares do sujeito.
Em
suma: o budismo consegue ser nu? Sim, se deixar de ser religião. sim, se for o
budismo Theravāda, o original. Mas com um custo. O de retirar substância ao
sofrimento. Cada vez que olhar para uma criança em sofrimento sorria o leitor: a
criança não existe, o seu sofrimento não existe, ou melhor colocar o problema
da sua existência não faz sentido, faz parte da ilusão, do véu de Maya. Solução
humana, muito superior à dos estoicismo e epicurismo, mas solução que tem como
preço abandonar o mundo incarnado. Que seja atraente para alguns europeus, diz
algo da sua incultura e da sua vontade de abandonar o corpo. São puritanos, em
suma.
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