sexta-feira, 4 de maio de 2018

O que diferencia o cristianismo das outras religiões? V



Não me esqueci. Faltam os corolários. Vejamos o primeiro: apenas o cristianismo resolve o problema do sofrimento sem lhe retirar substância.

É que no meio de todo este arrazoado pode o leitor dizer-me: e o budismo? E eu pergunto de que budismo fala o leitor? Se fala do budismo Mahayana, sobretudo o do Tibete, nada há de nu nessa religião. Toca de usar as vestes tibetanas, falar as línguas tibetanas, e seguir práticas étnicas tibetanas.

Se falar no Budismo original, o Theravāda, independentemente de ter variantes menos gloriosas como se vê pela violência do budismo birmano e do Ceilão, já falamos de outra coisa. Muitas vezes as pessoas se perguntam se o budismo é uma religião ou uma filosofia. O problema é que esta distinção só faz sentido para um cristão. Um grego bem sabia da diferença entre filosofia e religião, mas cada vez mais ao longo da Antiguidade seguir uma seita filosófica era adoptar um modo de vida. Entre os cristãos ser marxista, fenomenologista, ou idealista não muda nem as vestes nem os hábitos alimentares do sujeito.

Em suma: o budismo consegue ser nu? Sim, se deixar de ser religião. sim, se for o budismo Theravāda, o original. Mas com um custo. O de retirar substância ao sofrimento. Cada vez que olhar para uma criança em sofrimento sorria o leitor: a criança não existe, o seu sofrimento não existe, ou melhor colocar o problema da sua existência não faz sentido, faz parte da ilusão, do véu de Maya. Solução humana, muito superior à dos estoicismo e epicurismo, mas solução que tem como preço abandonar o mundo incarnado. Que seja atraente para alguns europeus, diz algo da sua incultura e da sua vontade de abandonar o corpo. São puritanos, em suma.


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