sexta-feira, 20 de abril de 2018

O que diferencia o cristianismo das outras religiões? I




Disse que antes que:

a)      O cristianismo é a única religião nua;

b)      Apenas o cristianismo percebeu que a vítima é inocente.

Eis o que diferencia o cristianismo das outras religiões. Mas daqui seguem dois corolários:

a)      Apenas o cristianismo resolve o problema do sofrimento sem lhe retirar substância;

b)      Apenas o cristianismo permite uma ontologia.

O cristianismo é a única religião nua. Que quer isto dizer? Que é a única que não traz consigo uma etnia.

No hinduísmo a resposta é evidente: é uma religião étnica, e nem se pretende universal (apesar de ter mensagens universais como a grega). Mas se virmos, a religião romana, a egípcia, a grega ou qualquer outra, verificamos que trazem consigo uma cultura, uma etnologia.

Para se compreender bem esta asserção temos de fazer três testes:

a)      Qual a língua sagrada?

b)      Que fez Cristo com a etnia?

c)      Quer isto dizer que o cristianismo é imune à cultura em que se integra?



O que diferencia o cristianismo das outras religiões? II



Qual a língua sagrada? Comparemos com o islão. Todos os muçulmanos dirão que é o árabe. O árabe do corão, para ser mais preciso. Não apenas língua sagrada, mas língua perfeita. Ao ponto de os solecismos do corão serem chamados de «gramática divina». Entre os persas, e sabe Deus quanto os persas desprezam os árabes, a língua sagrada é o árabe, ninguém o contesta. No hinduísmo evidentemente o sânscrito, Homero o bem grego Homero, por mais dialectal que seja, entre os gregos, e assim por diante.

Já pensou o leitor qual é a língua sagrada do cristianismo? Jesus, Deus para os cristãos, portanto, não um profeta, mas Deus Ele mesmo, falou arameu, parece. Nunca o arameu foi língua sagrada. O hebreu era língua sagrada, mas ninguém o falou entre os cristãos, foi sempre língua reservada a eruditos. O grego, obviamente língua sagrada para os cristãos do Oriente grego. Mas um grego de má qualidade literária como desde sempre se reconheceu. A ideia de que a crítica do texto vem das Luzes é apenas fruto de ignorância. Richard Simon era católico do século XVII. E já muito antes, São Jerónimo e  São Paulino de Nola no século IV já se sentiam incomodados com o mau estilo literário do Novo Testamento. Era evidente que Homero literariamente era maior.

Mas a lista não termina. O latim no Ocidente europeu, o copta entre os egípcios, o sogdiano na Ásia Central, o eslavão entre os ortodoxos eslavos, o siríaco entre os assiro caldeus. Não foi preciso o Vaticano II para que as línguas vernaculares fossem línguas sagradas, como o alemão de Lutero mostra. Hoje em dia em muitas partes do mundo o francês ou o inglês são mais línguas sagradas que o latim.

Não havendo uma língua sagrada, uma única língua sagrada, torna-se bem mais difícil veicular uma cultura única.

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