O que diferencia o cristianismo das outras religiões? I
Disse
que antes que:
a) O
cristianismo é a única religião nua;
b) Apenas
o cristianismo percebeu que a vítima é inocente.
Eis
o que diferencia o cristianismo das outras religiões. Mas daqui seguem dois corolários:
a) Apenas
o cristianismo resolve o problema do sofrimento sem lhe retirar substância;
b) Apenas
o cristianismo permite uma ontologia.
O
cristianismo é a única religião nua. Que quer isto dizer? Que é a única que não
traz consigo uma etnia.
No
hinduísmo a resposta é evidente: é uma religião étnica, e nem se pretende
universal (apesar de ter mensagens universais como a grega). Mas se virmos, a
religião romana, a egípcia, a grega ou qualquer outra, verificamos que trazem
consigo uma cultura, uma etnologia.
Para
se compreender bem esta asserção temos de fazer três testes:
a) Qual
a língua sagrada?
b) Que
fez Cristo com a etnia?
c) Quer
isto dizer que o cristianismo é imune à cultura em que se integra?
O que diferencia o
cristianismo das outras religiões? II
Qual
a língua sagrada? Comparemos com o islão. Todos os muçulmanos dirão que é o
árabe. O árabe do corão, para ser mais preciso. Não apenas língua sagrada, mas língua
perfeita. Ao ponto de os solecismos do corão serem chamados de «gramática
divina». Entre os persas, e sabe Deus quanto os persas desprezam os árabes, a língua
sagrada é o árabe, ninguém o contesta. No hinduísmo evidentemente o sânscrito,
Homero o bem grego Homero, por mais dialectal que seja, entre os gregos, e
assim por diante.
Já
pensou o leitor qual é a língua sagrada do cristianismo? Jesus, Deus para os
cristãos, portanto, não um profeta, mas Deus Ele mesmo, falou arameu, parece.
Nunca o arameu foi língua sagrada. O hebreu era língua sagrada, mas ninguém o
falou entre os cristãos, foi sempre língua reservada a eruditos. O grego, obviamente
língua sagrada para os cristãos do Oriente grego. Mas um grego de má qualidade literária
como desde sempre se reconheceu. A ideia de que a crítica do texto vem das
Luzes é apenas fruto de ignorância. Richard Simon era católico do século XVII.
E já muito antes, São Jerónimo e São Paulino
de Nola no século IV já se sentiam incomodados com o mau estilo literário do
Novo Testamento. Era evidente que Homero literariamente era maior.
Mas
a lista não termina. O latim no Ocidente europeu, o copta entre os egípcios, o sogdiano
na Ásia Central, o eslavão entre os ortodoxos eslavos, o siríaco entre os assiro
caldeus. Não foi preciso o Vaticano II para que as línguas vernaculares fossem línguas
sagradas, como o alemão de Lutero mostra. Hoje em dia em muitas partes do mundo
o francês ou o inglês são mais línguas sagradas que o latim.
Não
havendo uma língua sagrada, uma única língua sagrada, torna-se bem mais difícil
veicular uma cultura única.
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