O caso grego I
Muitos berros, muitas paixões.
Era bom de se ver que o caso grego haveria de as suscitar. Mas como diz o velho
adágio, é sempre melhor dividir os problemas para não os confundir. E neste
caso temo bem que estejamos a confundir três níveis bem diversos da discussão:
o poder, a legitimidade e a eficácia.
Na perspectiva do poder, a história que se conta é a da Alemanha
estar contra a Grécia. Bem vistas as coisas, gritaria pouco credível. Se bem notarmos,
é a Grécia contra todos, não contra a Alemanha. Ouvíssemos mais atentamente os finlandeses,
os holandeses, os letões, os eslovacos, veríamos que não existe muita afinidade
com a atitude grega. Há boas razões para isso. Quando os países da Europa Central
e de Leste entraram na União Europeia, os gregos não foram muito solidários com
eles, não querendo abdicar de muitos dos seus benefícios. Daí que muitos deles tivessem
tentado obter junto da Noruega e da Suíça o que não podiam obter na União Europeia,
porque a Grécia carecia de subsídios.
Na perspectiva do poder,
a aposta da dita esquerda pós revolucionária criou-lhe um imenso risco. Quando Haider
tentou fazer parte do governo na Áustria, mesmo com minoria, todos se levantaram
contra o facto. Agora é precisamente a mais extrema-esquerda que não vê
problema num partido protofascista no governo de coligação grego. Abriu um
cheque para o futuro. Foi a esquerda europeia que deu legitimidade à participação,
pelo menos de partidos como o Front Nacional francês. O partido da independência
grego é contra o multiculturalismo, contra a imigração e a favor do papel da
igreja ortodoxa na vida grega. A esquerda abriu a porta a Pegida, Vlamsbelang,
a todos os partidos de extrema-direita na Europa. Não abriu a caixa de Pandora.
Já estava aberta. Mas quebrou de vez as suas chaves; é a esquerda europeia que
validou a extrema-direita, que a legitimou de vez.
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