A Inglaterra quer sair da União Europeia?
E lá temos mais uma vez
uma birra: a Inglaterra ameaça de novo sair da União Europeia porque não gosta
do novo presidente da Comissão. Porquê? Porque este seria demasiado federalista
e porque a Inglaterra pretende uma reforma profunda das instituições comunitárias.
Já ouvimos esse discurso muitas vezes.
Vejamos o que retirar
deste discurso.
Em primeiro lugar, a
Inglaterra quer uma União Europeia à sua imagem. Di-lo, pelo menos. Mas tem-na.
Nunca as instituições europeias tiveram tanta influência britânica, e, por esta
via, americana. A desregulação dos mercados, sobretudo os financeiros, os temas
do multiculturalismo, as questões fracturantes, a língua inglesa, a discussão em
sede laboral, não dos direitos sociais e económicos dos trabalhadores, mas dos
direitos morais, como a protecção das minorias sexuais e étnicas. Que os
trabalhadores sejam explorados no seu conjunto não é grave, são as leis do
mercado, mas já que se descrimine o travesti
que vai de penacho trabalhar numa funerária isso não se pode admitir.
Na perspectiva da
imagem a Inglaterra nunca teve uma imagem tão forte, nunca a sua presença simbólica
foi tão forte. Blair apagou Jospin, Schroeder. Os países da Europa central e do
leste que entraram de novo foram endoutrinados pelo padrão anglo-americano. Os próprios
ingleses tinham noção de que os anos 90 foram uma «janela de oportunidade» como
agora se diz, que tinha de ser aproveitada.
Os presidentes da
Comissão foram escolhidos pela Inglaterra que, desde que apareceu um Delors (anormalidade
num cargo que deveria ser de um alto funcionário), que se assustaram com a
possibilidade de um presidente da comissão forte, e por isso escolheram progressivamente
o mais medíocre e fraco que puderam.
Mas este quadro inglês
tem muitas fissuras.
Em primeiro lugar, é precisamente
este conjunto de instituições europeias que mais suscitam o desprezo inglês.
Nunca as instituições europeias estiveram tão próximas do modelo que pretendiam
e nunca foram tão vilipendiadas. Antes não eram amadas, mas temidas. Hoje em
dia, basta para isso ler os jornais ingleses, são desprezadas. É precisamente
uma comissão fraca, com chefia fraca, que é objecto de desprezo pelos ingleses.
O que antes os irritava suscita agora apenas condescendência.
Em segundo lugar, uma
Europa à imagem da Inglaterra já existiu e foi por ela feita. Chama-se EFTA,
criaram-na em 1959 e três anos depois já estavam a bater à porta da CEE, de tal
forma era boa a Europa feita à sua imagem. Como Atena que deu à luz um monstro,
a ideia britânica para a Europa é afinal muito pouco empírica. É uma ideia que
têm na cabeça e não percebem que é ela mesmo um monstro quando concebido e
saído à luz do dia. Aceitemo-lo: os países europeus não gostam da Europa à imagem
da Inglaterra e nem a Inglaterra gosta da Europa cada vez mais à sua imagem.
Em terceiro lugar, o poder,
junto dos países da Europa central e de leste, da Inglaterra já se enfraquece
cada vez mais de dia para dia. É bom de se perceber as razões. Se a mais-valia
que trazem é a relação com os Estados Unidos, estes países não precisam da
mediação britânica. A Inglaterra torna-se inútil. Além disso, como a Inglaterra
é muito amiga mas está preocupada antes do mais com o seu cheque e a devolução
da sua contribuição, os países da Europa central e leste perceberam que dela
pouco teriam a receber. Pressionaram a Suíça e a Noruega a dar mais dinheiro, e
sabem que contam na hora da verdade mais com a Alemanha e a Áustria que algum dia
contarão com a Inglaterra.
Em quarto lugar, o mito
Blair começa a esfumaçar. A dita terceira via, que se traduzia em ter uma política
apenas com uns laivos socializantes e muito discurso de preocupações sociais
sem grande acção mostra-se no seu vazio filosófico como puro marketing.
Eis que as potências da
Europa continental conseguem colocar no centro do conselho europeu um homem do centro
e agora na comissão europeia se anuncia o mesmo. No fundo, restabelece-se um equilíbrio.
É a mesma Inglaterra que tanto se vangloria da sua soberania nacional que se
quer impor às outras soberanias. E começa a deixar de o conseguir fazer.
Da parte que me toca
teria muito a dizer sobre esta personagem que pretendem colocar na comissão
europeia. Nem tudo bom, nem tudo mau. Mas um facto não pode ser esquecido. Numa
relação, quem está sempre a ameaçar que sai é infantil e malcriado. A Inglaterra
merece mais, merece-se mais. Um divórcio não se ameaça: anuncia-se e executa-se.
É de bom-tom, é adulto e bem-educado. Quando muito invoca-se a possibilidade
para resolver de vez o problema: ou mantendo o casamento e nunca mais falar
dele, ou acabando de vez com o matrimónio.
O que a Inglaterra não
percebe é que de tanto ameaçar que se vai embora as pessoas vão-se habituando à
ideia. Não a executando, perde credibilidade. Executando-o, perde impacto. Parcimónia,
como tão bem lembrou um pensador inglês tão esquecido dos ingleses, Ockham. Parcimónia
é sinal de bom gosto, e bom senso.
Alexandre Brandão da Veiga
2 comentários:
Caro Senhor
Imagino que quando fala e repete o nome da Nação "Inglaterra" se refere ao Reino Unido.
É que a Inglaterra não quer nada porque a Inglaterra manda tanto como a Escócia,Gales e Irlanda do Norte.
Muitos nomes se dão. Grã Bretanha, Reino Unido,UK, United Kingdom mas o Governo é do Reino Unido, a Rainha é a do Reino Unido ( e todos os demais Países que a têm como chefe de Estado,Canadá,Austrália etc etc etc )e o povo é o Britânico.
Vá lá chamar a um Irlandês ou Escocês,Inglês e vai ver os insultos que ouve!
A Inglaterra não é um País.
Os Ingleses são o povo da Nação Inglesa,uma mais metida num Reino.
O Reino Unido!!!!
Professor
A Inglaterra é simplesmente uma região autónoma dentro de um Reino.
O Reino Unido.
Não me parece correcto que escreva como se de um País independente se tratasse.Nem é sequer académico.
É um erro crasso.
Obrigada
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