terça-feira, 3 de junho de 2014

Pensar fora da caixa

 
O partido Comunista era conhecido por ter a célebre «cassete». De tanto ser criticado por isso, hoje em dia aprendeu, e é dos partidos com menos «cassete». A questão é que há outros muito menos sindicados no seu discurso. Um dos exemplos é o dos gestores. Os seus lugares comuns, os seus tiques, surgem impunes no espaço público.
Dedico-me hoje a um: temos de pensar «fora da caixa», «out of the box», de acordo com a expressão americana original. Cacemos mais este lugar-comum, sobre o qual apenas há três coisas a dizer.
Em primeiro lugar, não deixa de ser curioso que mais uma vez esta, que se diz uma ciência, careça de um enunciado normativo. Devemos pensar fora da caixa. Devemos? Em nome de quem? Que lógica modal no-lo impõe? Que ciência é esta da qual não saem asserções escoradas, mas apenas preceitos?
Em segundo lugar, todos temos de pensar fora da caixa. Todos? Que vontade de uniformização, que espírito de manada... Todos, todos sem excepções temos de pensar fora da dita, ou pelo menos de achar que essa é a forma de pensar por excelência.
Em terceiro lugar, que metáfora é esta a de pensar fora da caixa? Que visão do homem carreia? Vejamos: quem diz que é preciso pensar fora da caixa é porque vive nela. Para ele, pensar fora da caixa é exercício titânico, contradição com a sua própria natureza. Colocado em bicos dos pés, espreita por fora da caixa e sente nisso acto heróico. No fundo, no fundo, admitamo-lo: É que vive na caixa, sempre viveu nela.
Fruto de uma ciência que o não é, regida pela tradução literal, uniformizadora da vida humana e destinada a pessoas que se vêem presas a uma jaula, o preceito é simpático, por vezes mesmo bem-intencionado. Quem vive numa caixa que o cumpra.
 
Alexandre Brandão da Veiga
 
 

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