Pensar fora da caixa
O partido Comunista era
conhecido por ter a célebre «cassete». De tanto ser criticado por isso, hoje em
dia aprendeu, e é dos partidos com menos «cassete». A questão é que há outros
muito menos sindicados no seu discurso. Um dos exemplos é o dos gestores. Os
seus lugares comuns, os seus tiques, surgem impunes no espaço público.
Dedico-me hoje a um:
temos de pensar «fora da caixa», «out of the box», de acordo com a expressão americana
original. Cacemos mais este lugar-comum, sobre o qual apenas há três coisas a
dizer.
Em primeiro lugar, não deixa
de ser curioso que mais uma vez esta, que se diz uma ciência, careça de um enunciado
normativo. Devemos pensar fora da caixa. Devemos? Em nome de quem? Que lógica modal
no-lo impõe? Que ciência é esta da qual não saem asserções escoradas, mas apenas
preceitos?
Em segundo lugar, todos
temos de pensar fora da caixa. Todos? Que vontade de uniformização, que espírito
de manada... Todos, todos sem excepções temos de pensar fora da dita, ou pelo menos
de achar que essa é a forma de pensar por excelência.
Em terceiro lugar, que metáfora
é esta a de pensar fora da caixa? Que visão do homem carreia? Vejamos: quem diz
que é preciso pensar fora da caixa é porque vive nela. Para ele, pensar fora da
caixa é exercício titânico, contradição com a sua própria natureza. Colocado em
bicos dos pés, espreita por fora da caixa e sente nisso acto heróico. No fundo,
no fundo, admitamo-lo: É que vive na caixa, sempre viveu nela.
Fruto de uma ciência que
o não é, regida pela tradução literal, uniformizadora da vida humana e destinada
a pessoas que se vêem presas a uma jaula, o preceito é simpático, por vezes mesmo
bem-intencionado. Quem vive numa caixa que o cumpra.
Alexandre Brandão da Veiga
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