Józef Maria Bocheński
Na História da lógica que
me lembre tive dois conjuntos de mestres: o casal Kneale e Bocheński. Confesso que
sempre achei misterioso o que leva apesar de tudo tanta gente a estudar lógica.
Poucas actividades dão tão pouco prestígio, realizações práticas imediatas ou visões
mais ou menos directas do mundo. Um físico, mal ou bem, pode aspirar a um grau de
notoriedade muito maior, maior respeito público, e pode arrogar-se de descrever
mais ou menos bem a realidade.
Um lógico hoje em dia está
destituído da ideia de que estabelece as leis do pensamento (a própria lógica reusou
a tarefa e as neurociências ocupam-se dela com gosto), o que descreve parece
ser coisa nenhuma, e ao mesmo tempo passa pelo exemplo máximo do inútil. É evidente
que bem sabemos que não é assim. Se posso estar a escrever à frente de um computador
é graças à formalização de linguagens que começou na lógica. Mais útil não pode
ser.
Mas como o argumento da
utilidade só é essencial numa época de caixeiros-viajantes que não conhece mais
nada, não me parece, nem o mais importante, nem o mais decisivo. A lógica é uma
actividade de uma imensa beleza, em que se atingem algumas das mais potentes capacidades
de concentração e pensamento humanos. Para quem não tem preconceitos contra a metafisica,
como é o meu caso, é importante salientar que não tem igualmente preconceitos contra
a lógica. Uma não vive sem a outra e vice-versa.
Entre as duas Guerras
havia dois lugares onde estar para quem queria fazer lógica. Ou a Áustria, ou a
Polónia. Na Áustria Carnap, Schlick, Gödel, Neurath. Na Polonia Kazimierz
Twardowski, Tadeusz Kotarbiński, Kazimierz Ajdukiewicz, Jan Łukasiewicz e o não
menos relevante Alfred Tarski a quem se deve grande parte dos estudos americanos
na lógica, por ter formado a escola de Berkeley. Se os Estados Unidos têm estudos
de lógica, isso deve-se a estas duas nacionalidades, expulsas pelo suicídio
europeu da II Guerra.
Dois países aparentemente
pequenos, mas que podem ser os mais adiantados do mundo, não no que hoje em dia
se chama nicho de mercado, mas antes ninho fecundante de toda a cultura, ciência
e tecnologia dos anos futuros.
Por isso é um prazer
ouvir Bocheński. Além de me trazer memórias da juventude, é das raras pessoas
que deixa adivinhar a sua (por vezes trágica) experiência, que filtra com uma alegre
racionalidade. Uma sólida razão que sorri. Que variante em relação a mal dispostos,
profissionais da indignação como sucedânea das ideias.
Alexandre Brandão da Veiga
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