O Bispo e eu
Fiz uma descoberta tardia deste Bispo de Lisboa com quem tantas vezes falei. Parecia apenas racional, inteligente, institucional. Diria que a sua evangelização passava só pelo cérebro. Entrevistei-o várias vezes. Uma delas, longamente, no dia em que o Cardeal Ribeiro morreu. Estava normalíssimo. Mostrava a frieza do pastor que herda um rebanho que conhece, com a naturalidade dos que ficam mais tempo vivos, antes do encontro na Eternidade. Olhava-o como Bispo mas creio que nunca me viu como crente. Não tinha uma interacção pessoal comigo. Nos jornais ou na Câmara de Lisboa, trocámos apenas assuntos, o que, para mim, representava um desencontro. Em absoluto contraste, tinha sentido de humor, fumava, falava sem rodeios, com simplicidade e profundidade.
Procurei o pastor nos seus textos e nas homilias que D. José escrevia primorosamente. Era outra pessoa. Calorosa. Transmissora do Amor de Deus. Conhecedora das fragilidades humanas. Esperançada na resposta de cada um ao desafio da Vida, em Cristo. A última homilia que lhe ouvi, há semanas, na igreja do Colégio do Bom Sucesso, foi um sinal partilhado da intimidade de Deus. Comovente. Senti-me inábil por não o ter descoberto mais cedo. Mas Ele sempre esteve lá. E revelou-Se em tempo útil.
1 comentários:
Vi-o discursar de improviso, em francês, após uma lição memorável dada pelo Arquiduque Otto (então com 93 anos) sobre o Beato Carlos I de Áustria, na Universidade Católica. Falou numa língua que não a dele, na perfeição, com elegância, terminando com a jaculatória: "Bienheureux Charles, priez pour nous!"
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