terça-feira, 13 de julho de 2010

SERMÃO AOS INTELECTUAIS

Quem anda sempre atrás dos bons sentimentos deixa ficar para trás os seus.

Não há temas inteligentes, mas formas inteligentes de os estudar e exprimir.

A revolta de quem está sentado numa cadeira é sempre mais fácil que a concessão de quem enfrenta a luta.

Criticar o poder e estabelecer máximas de governação é de quem sendo impotente pretende definir o prazer dos outros.

Não acredito nos que defendem a liberdade com uma voz tão alta que não deixam os outros falar.

Só pode mostrar a indignação quem pretende pagar o serviço ou o sabe prestar.

Não desprezes os técnicos por ignorarem o que tu sabes, pois sabem eles fazer o que tu não fazes.

Invocar a humildade é bem pior que mostrar a arrogância. O segundo é parvo, o primeiro é perigoso.

Não grites tanto que não te ouves pensar.

Estranho sentimento de revolta que não afecta a digestão.

Tanto idolatras a intranscendência que ela te vence.

Criticas o burguês. Mostra primeiro a tua árvore genealógica. Se tiveres sangue real a correr-te nas veias duvido que o faças.

Não confundas as tuas indisposições com a lucidez.

Quem suspira por ideias corre o risco de não o fazer por pessoas. Quem não o faz corre o risco de não as entender.

Quem diz que ninguém o influenciou ou é ignorante ou destituído. Porque só ignorando ou não percebendo se pode ser insensível às obras-primas do passado.

Os teus dois maiores inimigos são o cansaço e a estupidez. Muitas vezes o que escreves vê-se que resulta da falta de férias. O segundo vício, no entanto, não se corrige com a posição horizontal.

Os que fazem alarde de serem responsáveis pelos outros são muitas vezes os menos responsáveis com a própria vida. Querer olhar apenas para as multidões, os grandes espaços, ou a humanidade em geral é sinal de desejo de afastamento, mais que de comunhão. Quem não verte uma lágrima pelo próximo aconchega-se na melhor das hipóteses com abstracções de justiça social.

Andam muito esquecidos aqueles que criticam a futilidade. Nada há de mais fútil que a criação cultural. É por isso necessária.

A tua adesão a um movimento político só o prestigia aos olhos de quem não percebe que nele apenas serás útil se tiveres competência política.

Opinar sobre as sortes do mundo ou abster-te de o fazer é algo que deverias ter a coragem de fazer como pessoa e não como intelectual.

Sempre que apoiares uma guerra arrisca primeiro o teu sangue. Sempre que a condenares compensa quem perde com a sua ausência. Não o fazendo tens direito à palavra ou ao silêncio. Mas como qualquer vendedor ambulante o faria numa conversa transeunte.

Se não tens fome de absoluto, pouco te dá saciedade. Se apenas falas nele confundes o tema com a pertinência.


Alexandre Brandão da Veiga

2 comentários:

miguel vaz serra...... disse...

Talvez aprendam algo...

Táxi Pluvioso disse...

É como pregar aos peixes: não há intelectuais portugueses, apenas tipos "com a mania de".