sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Asfixia Democrática ou Morte por Estrangulamento !?

No dia 11 de Setembro deste mês a notícia era a de um empate técnico nas intenções de voto entre o PS e o PSD. De acordo com essa sondagem, realizada pelo Centro de Sondagens e Estudos de Opinião da Universidade Católica Portuguesa, o PS registaria, naquela data, cerca de 37% dos votos, o PSD andaria à volta dos 35% (o que, consideradas a margem de erro e o número expresso de indecisos, levava à afirmação do dito empate técnico), o Bloco de Esquerda 11%, a CDU 8% e o CDS-PP 6%.
Ontem, porém, passados apenas 6 dias, a notícia era a de que estava definitivamente desfeito o referido empate, pois que o PS aumentava de um modo estatisticamente muito significativo a sua vantagem relativamente ao PSD. Uma nova sondagem, realizada pelo mesmo pelo Centro de Sondagens e Estudos de Opinião da Universidade Católica Portuguesa, dava já por adquirida a vantagem do PS, que arrecadaria agora 38% das intenções de voto, enquanto o PSD desceria para os 32%. O Bloco de Esquerda subiria para os 12% e a CDU e o CDS-PP encontrar-se-iam empatados, cada um com 7% das intenções de voto.
Não ponho de modo nenhum em causa a honestidade e a competência da maioria dos nossos conhecidos Centros de Sondagens, embora julgue que a surpresa que todos reconheceram, por exemplo, nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, e o aproveitamento político de que sabem que são alvo, deveria merecer-lhes um cada vez maior cuidado. Caso contrário, o descrédito em que as sondagens começaram já a cair fará dos seus próprios Centros as óbvias primeiras vítimas.
O que quero aqui notar, porém, não é a isenção e a humildade que devem cada vez mais exigir-se a todas estas sondagens e estudos de opinião. O que verdadeiramente me preocupa, neste momento, é o condicionamento mediático da opinião pública por meio da opinião publicada, de que esta notícia é mais um notório exemplo.
Com efeito, esta extraordinária mudança de opinião vem implícita e/ou explicitamente justificada, na maioria dos jornais, com o facto desta sondagem se ter realizado durante os dias 11 e 14 de Setembro e o debate televisivo entre Manuela Ferreira Leite e José Sócrates ter acontecido no dia 12, sugerindo, portanto, uma relação de causa e efeito entre os dois acontecimentos.
Ora, tendo eu visto o referido debate entre Manuela Ferreira Leite e José Sócrates, francamente não percebo como é que ele possa ter determinado qualquer mudança decisiva e muito menos a favor do PS. Digo isto já tendo em conta o que disseram muitos conhecidos comentadores políticos, logo após o referido debate e independentemente do que nele realmente se passou. Aliás, tal como já disse a propósito das sondagens, a influência destes opinion-makers só poderá exercer-se eficazmente enquanto mantiver algum contacto com a realidade, caso contrário eles deixarão de ser credíveis (veja-se, por exemplo, o caso de Luís Delgado, o qual, chamado para comentar, na TSF, as sondagens que davam um empate técnico entre o PSD e o PS, concluía que, a despeito do que diziam as sondagens, o que ele sentia (sic) é que Manuela Ferreira Leite tinha já perdido a sua oportunidade de vir a ganhar estas eleições ! ).
Poderia perguntar-se, portanto, se não houve, nestes mesmos dias, quaisquer outros acontecimentos importantes e significativos que possam ter influenciado, ou vir a influenciar, a intenção dos votos dos cidadãos? O facto mais significativo, porém, é que ninguém faz essa pergunta. Os meios de comunicação para as massas difundem acriticamente a notícia que, sem esforço, lhes chega às mãos, através da qual há alguém que espera que o povo, no próximo dia 27, apaticamente vote onde mais lhe interessa, ou convém.
Porque, feita a pergunta, imediatamente se percebem duas coisas: a primeira é que, neste mesmo período, muitos casos houve e/ou havia que poderiam negativamente influenciar as intenções de voto no PS; a segunda é que esses casos ou não são notícia ou, quando chegam a sê-lo, não têm eco.
Não falo já dos chamados casos Sócrates, a cuja família veio agora juntar-se mais um primo, cuja eventual relação com a investigação sobre o Freeport se tornou pública no meio do episódio de encerramento do telejornal da TVI...
Mas falo da inauguração do novo hospital de Seia pela Ministra da Saúde, após a qual foram imediatamente retiradas algumas camas da unidade de cuidados continuados, caso de que nunca mais se ouviu falar.
Falo de tantas outras inaugurações que vão sendo feitas Portugal a fora e que, no seguimento deste caso (que revela um padrão consistente com o que já antes tinha acontecido, por exemplo, com a distribuição dos computadores Magalhães nas escolas), talvez merecessem uma maior e melhor investigação.
Falo da confusão evidente entre a imagem do Governo e a imagem do PS (veja-se o portal do Governo e compare-se a sua imagem com a dos cartazes do Partido), de que já resultou, por exemplo, a incorporação indevida de imagens filmadas pelo Ministério da Educação (que mostravam crianças recebendo o computador Magalhães na sua escola) no tempo de Antena do PS, ou a utilização de um depoimento de Carlos Pimenta (fora do seu contexto e sem que ninguém lho tivesse pedido) num comício de campanha do PS.
Falo dos anúncios sobre o cheque dentista que repetidamente passam na televisão a mando do Ministério da Saúde e da sua Direcção-Geral, ou dos anúncios sobre o extraordinário apoio dado pelo Governo às pequenas e médias empresas, que repetidamente passam nas rádios a mando do Ministério da Economia e da Inovação, os quais de ninguém merecem um só comentário ou opinião.
Falo das obras nas Escolas agora anunciadas pela Ministra da Educação. Estão essas obras realmente a acontecer, ou não passam de um mero anúncio? E nas Escolas onde realmente estão a ser feitas obras, deveriam as mesmas realizar-se neste momento, ou apenas estão a ser feitas agora por razões eleitorais, deste modo prejudicando o funcionamento das escolas e, obviamente, os próprios alunos?
Muitas outras perguntas poderiam fazer-se. Tantas outras coisas deveriam investigar-se. O facto, porém, é que nada se pergunta ou investiga. A informação vai sendo prestada à população de acordo com casos que chegam já devidamente elaborados à redacção dos jornais, à razão de um por dia, desviando a atenção das pessoas para outras questões, mas condicionando a sua opinião: ontem foi o pagamento de votos nas eleições das secções do PSD; hoje é o caso do conluio de Cavaco Silva por intermédio de um seu assessor; amanhã, já se verá.
Este evidente estrangulamento da mais elementar liberdade de expressão não se deve, obviamente, aos jornalistas, mas ao estado de decadência gritante a que chegou o nosso País, que sobrevive, com dificuldade, em dependência directa do Estado: assim acontece com os bancos, com as empresas, com as instituições e, claro está, também com os jornais e com as televisões. Dependência esta aumentada por um Governo que, neste aspecto, revelou uma eficácia na utilização do aparelho do Estado sem qualquer termo de comparação em Portugal desde o 25 de Abril.
No entanto, também os políticos não podem afastar-se mais que um tanto da realidade, sob pena de deixarem de ser credíveis… A maioria das pessoas, com efeito, não pode dar-se ao luxo de se afastar da realidade, pois que diariamente vive e se confronta com ela. Sobretudo em tempos de crise, por isso, a realidade tende a impor-se, forçando o povo a escolher entre o que é verdadeiro e o que é falso, entre aquilo que é real e pode fazer-se e aquilo que é ilusório e pode apenas imaginar-se. Ora, o povo português, chamado a decidir, demonstrou sempre o seu bom senso. Acredito – e espero – que voltará a fazê-lo agora.

2 comentários:

Redonda disse...

Vamos ver quais os casos que vão surgir esta semana. Independentemente de poderem ser importantes, são utilizados sempre para denegrir e para fazer "ruído" não tratando do que realmente interessa.

Ricardo Alves Gomes disse...

Ele há asfixias democráticas, apneias eleitorais e
as(fictícias)institucionais...

Todas concorrem, na mesma proporção, para enforcar o Estado de Direito Democrático.

Só nos faltava mais esta, "safa"!