sexta-feira, 17 de julho de 2009

Mar de Alcântara

Durante muito tempo o Estado relacionava-se com os particulares com os seus próprios meios: os seus recursos e a sua mão-de-obra - os funcionários públicos.
Depois, e face à complexidade crescente das relações que estabelecia com os privados, muitos começaram a defender a necessidade de o Estado melhor se apetrechar para essas contendas.
Começava a ser patente que os privados defendiam bem os seus interesses, recorrendo a profissionais (advogados, engenheiros, gestores, arquitectos)bem pagos e motivados.
O Estado começou por isso a contratar esse tipo de serviços no exterior. Nomeadamente, começou a recorrer frequentemente a sociedades de advogados para dar assessoria especializada e negociar contratos de grande dimensão, uma vez que se entendia que teriam o know how que faltava ao Estado.
Hoje o Tribunal de Contas declara que o negócio dos contentores de Alcântara é ruinoso para o Estado, muito bom para o promotor privado.
O Tribunal de Contas fala em indícios de "prevaricação".

Perante estas notícias só uma de duas leituras é possivel:

Ou quem agiu em nome do Estado estava de boa fé e delegou nos advogados que negociaram a seu bel prazer, com os resultados ruinosos que agora se conhecem; ou estava de má fé e propositadamente lesou o interesse público, com a complacência dos juristas que intervieram na negociação e feitura do contrato.
Qualquer um destes comportamentos tem um nome e acarreta consequências políticas, civis, disciplinares e criminais.

Isto já não é um rio,é um mar de corrupção. Tão denso,que se por azar os contentores nele caíssem, eram capazes de flutuar.

4 comentários:

joão wemans disse...

Observações judiciosas... Sobre um mundo bastante obscuro.
Talvez a crise geral agora palpável nos estimule, na promoção de uma vivência mais límpida das relações entre Estado e "sociedade civil", para benefício de todos. Oxalá...

commonsense disse...

Há lodo no cais

pirata disse...

Cara Sofia Rocha,
Tem a certeza que "só uma de duas leituras é possível"? Neste clima de constante campanha eleitoral em que vivemos, parece que muitos já se habituaram a aceitar sem questionar o que lêem nos jornais e vêem nas televisões. É fácil, mas não é saudável nem cívico.
Permito-me sugerir uma terceira linha de análise: já leu a própria análise do Tribunal de Contas?

O Marquês disse...

algo que nunca cessará de me intrigar:

o Tuga médio pré-revolução era todo para os tachos quentes da função pública, era o que se chamava "resolver a vida" nesses tempos... os bons chefes de família aspiravam a ter a filha ou o filho ancorados na função pública.

Mas logo após a revolução tudo se inverte: os Comunas, Them Pinks and them Commies, it's them Pinks and them Commies.
Afogaram o que mais amavam: o estado.
Esquizofrenia.
Sol na eira e chuva no nabal.

Impossível, país impossível

Earing "Deadcandance.mp3"