quinta-feira, 16 de julho de 2009

As mulheres de 60

Num país pobre como o nosso, a condição das mulheres tende a ser pior. São as mulheres as primeiras vítimas em tempos de desemprego, como estes que vivemos. Quando trabalham, a ocupação com as tarefas domésticas continua a ser muito desequilibrada, como há pouco tempo o Observatório público que estuda estas questões referia (com as mulheres a trabalharem em casa mais 10 horas semanais do que os homens ).
É assim genericamente, estatisticamente.

Parece-me que uma das gerações de mulheres portuguesas mais causticadas, e que se encontra em pior situação, é a das mulheres com cerca de sessenta anos.
Têm filhos e netos. A uns e a outros ajudam: com dinheiro, tempo, recursos e apoio na educação dos netos:levam-nos às escolas, ao médico, ficam com eles nos horários laborais compridos dos filhos. Sobretudo porque Portugal tem uma taxa elevada de população feminina trabalhadora.

Lidam com famílias desestruturados dos filhos que elas não ousaram ter no seu tempo.
Mas estas mulheres, que já têm duas gerações a suceder-lhes, têm hoje, e pela primeira vez na nossa história, os seus próprios pais vivos. Isto é, idosos com 80 ou 90 anos, a necessitarem também eles de cuidados.
Estes idosos, na maior parte dos casos, vivem com o agregado e frequentemente necessitam de vigilância permanente, ou estão mesmo acamados, permanecendo vivos graças à evolução da medicina.

Se há vinte anos, pessoas com 60 anos eram já considerados idosas, hoje são solicitados a esforços permanentes. Entaladas entre gerações, correm do infantário para o hospital.
São, as mais das vezes, o grande sustentáculo factual das famílias de hoje.
Fala-se pouco desta realidade. Devia-se falar mais.
Sobretudo, começar a estudar a adopção de políticas, nomeadamente em sede de segurança social,que reconheçam o papel fundamental por elas desempenhado no âmbito dos cuidados familiares.

5 comentários:

joão wemans disse...

É verdade; devíamos por isso tudo pensar em ter mais
filhos.

Anónimo disse...

76 horas por semana,em média ,é esse o trabalho d'uma senhora.

Paula disse...

É esta a igualdade de direitos e deveres que a nossa democracia continua a alimentar. Enquanto cidadã, a lembrança de como era viver no antigo regime e a revolução do 25 de Abril não é mais do que uma franja na minha infância, sem consequências, sem revoltas. Mas enquanto mulher, a viver num país democrático há 35 anos, a revolução do 25 de Abril tem outros significados, essencialmente, porque o que muitos cidadãos deste país ganharam com ele e com a democracia, o direito à liberdade e à igualdade, muitos outros, a maioria ainda continua a lutar por estes direitos e, entre estes, as mulheres.
Mesmo que a partir de 1974 com a Lei nº 621-A de 15 de Novembro se tenha formalmente abolido as restrições baseadas no sexo e alterado o texto da Constituição da República Portuguesa e posteriormente o estatuto social e jurídico da mulher, a verdade é que passados 35 anos, ainda não foi atingida a igualdade plena em termos práticos, com consequências muito graves, não apenas para as mulheres, mas, também para a sociedade em geral. E enganem-se aqueles que estão já a pensar, “lá está ela, mulheres ao poder”, porque esta realidade vai muito para além dessa circunstância, e é isto é que é preciso ser falado e relembrado.
Gostaria de evidenciar algumas assimetrias em domínios chave para a concretização plena da igualdade de género: o trabalho remunerado e os processos de tomada de decisão.
Sendo o trabalho remunerado a principal fonte de recursos que permite, não apenas, a independência e a segurança económica das pessoas, ele é, também, essencial para o desenvolvimento individual, auto-estima e acesso à satisfação das necessidades básicas de sobrevivência, tanto para homens como para mulheres.
Em Portugal, como no resto do mundo, a desproporção entre os rendimentos/salários de homens e mulheres é elevado, muito se devendo ao facto de que as oportunidades de emprego no mercado de trabalho serem inferiores para as mulheres. E isto reflecte-se, principalmente, num maior índice de pobreza entre a população feminina, com repercussões graves no acesso a outros recursos como a saúde, a educação, a bens culturais ou tempos de lazer.
A mensagem que quero deixar é: que façamos um apelo à reflexão e mudança de mentalidades, pois não estamos apenas a desperdiçar recursos, como estamos também, a produzir e a reproduzir uma sociedade cada vez mais empobrecida e discriminatória. Os valores da democracia e os direitos inscritos na Constituição Portuguesa, não estão a chegar a todos os cidadãos da mesma forma como deveria, ou seja, independentemente das capacidades físicas, intelectuais, qualificações ou sexo de cada um.

E esta continua a ser a luta de alguns, 35 anos depois…

joão wemans disse...

- É verdade; nem sequer o direito à vida está actualmente assegurado para muitas mulheres (para falar só do "sexo fraco"), com a Lei do aborto...

Anónimo disse...

Nem todas as mulheres de 60 sao coitadinhas, algumas como eu ainda trabalham concursadas com otimo salario, vivendo bem e sendo respeitada pela familia.Lutei para isto e nem por sonho me sinto com 60.Tem muitas mulheres de sessenta que valem por 100 das atuais.