segunda-feira, 29 de junho de 2009

The Varangians of Byzantium Benedict Benedikz Cambridge University Press; 1 edition (February 28, 1979)


Um livro feito por islandês sobre escandinavos que vivem em Bizâncio. Nada de mais exótico na aparência. Afinal, fala-se pouco da cultura islandesa no sul da Europa. O que é pena. A comunidade dos países escandinavos tem aspectos bem importantes a ensinar à Europa.

Mas não estou a ser rigoroso. Varegues, quem são eles? São escandinavos do Rus, escandinavos pura e simplesmente, por vezes eslavos, outras ainda ingleses (no verdadeiro sentido antigo, o de anglo-saxões). Depende das fontes. Por vezes Rus, Rhos representa os escandinavos e não os russos, que aparecem apenas mais tarde como entidade política reconhecida de modo distinto.

Não é este o lugar para fazer História, talvez um pouco mais para teoria da História. Mas mais importante é perceber até que ponto a imagem que a nossa época faz de si mesma é tão distorcida.

O que ouvimos dizer todos os dias pelas esquinas é a que vivemos numa época de globalização. Palavra grosseira, inconsistente e pouco esclarecedora. Se o que se pretende dizer é que as viagens são mais rápidas e as informações ocorrem mais depressa, sem dúvida. Mas ser veloz não é o mesmo que se profundo ou substantivo.

Os escandinavos atravessam a Europa por toda a sua costa ocidental até à Sicília. E pela sua vertente oriental até à Sicília. A ocidente colonizam a França e a Inglaterra, deixam marca na península ibérica e passam à itálica. A oriente colonizam o que hoje em dia é o espaço russófono, passam por Bizâncio e desembocam na península itálica. Nesta tenaz circular as duas pontas pegam-se na Itália do sul, sobretudo a Sicília. E Bizâncio não ficou excluído.

Este percurso mostra-nos vários aspectos com os quais a nossa época lida bem pouco.
1) Os espaços geográficos atravessados são muito grandes e ligados entre si. Os escandinavos nunca perderam contacto definitivo com a sua origem e os territórios do Norte. Existem movimento pendulares e não apenas num sós sentido.
2) Bizâncio nunca esteve totalmente cortado dos movimentos europeus. Por muitas outras vias, mas também por esta. Apenas a invasão turca destruí estas trocas para passar ao simples modo de conquista.
3) Estes movimentos “globais” são bem mais profundos que simples ida à Internet ou o passeio turístico. Dá-se a vida em terra estranha, por povos distantes, vive-se, vive-se efectivamente em es+aço diferente.
4) A História não é feita de capítulos que se encerram como os olhos que se fecham. Parte dos anglo-saxões vencidos na conquista de Guilherme I de Inglaterra foram para a Sicília. Mas parte foi para bizâncio igualmente. O indigente quando ouve falar da conquista de Inglaterra quando muito retém que os anglo-saxões foram vencidos, e pensa que tudo é simples: uns morreram e outros se submeteram. No entanto, esquece-se de outros que partem.

Para um apaixonado pela cultura bizantina como eu, esta é mais uma perspectiva de uma civilização tão rica em acontecimentos e possibilidades. A teorização da relação entre a Europa e Bizâncio e a Europa está por fazer. Mas cada vez mais me convença que se trata de duas civilizações os irmãs, como as estrelas duplas na astronomia. Bizâncio não é Europa. Uma e outra giram à volta de um eixo central vazio, criam tensões, reverberações, uma na outra, trocam entre si massa e energia. No dia em que bizâncio morre a Europa já se encontrava numa rota suficientemente autónoma para não soçobrar com o facto. E o que resta da sua massa e energia passa em parte para o mundo católico (Áustria, Itália e colónias italianas no mar Egeu sobretudo) e para os países ortodoxos.

Bizâncio recebe massas humanas vindas da Europa e ideias da Europa (um dia falarei dos Comnenos em que se verá este efeito). Transmite à Europa por outro lado massas humanas e ideias. Pela Itália do sul e oriental, que estive dominada por bizâncio até bem tarde e sob sua influência de forma contínua até ao final do império. Recebe por via dos Balcãs e da Europa oriental. Recebe massas humanas igualmente. Nas elites como os marqueses de Montferrato e o cardeal Bessarion na Itália. A França recebe Paleólogos, bem como a Rússia. Mas igualmente gente da esfera de influência bizantina, como os Bagration. Mais em geral existem movimentos de populações com as conquistas turcas que se dirigem para a Europa oriental e central.

O livro fala apenas de uma gota de água neste oceano, de uma peça deste mecano. O papel dos vergues em bizâncio. Uma pequena parte, é certo. Mas uma parte pouco estudada, pouco objecto de atenção. Os Varegues não se ficam por bizâncio. Marca o espaço russófono e todo o mediterrâneo oriental. Mas sobretudo Bizâncio perderia um elemento de compreensão importante se nos esquecêssemos dos Varegues. Também eles fixaram parte da grande aventura europeia. Neste caso pela participação igualmente na sua estrela gémea.





Alexandre Brandão da Veiga


http://www.s-gabriel.org/names/gunnvor/varangian/
http://www.stormfront.org/forum/archive/index.php/t-252162.html
http://historyofwarfare.blogspot.com/2008/05/military-history-and-warfare-byzantium.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Varangians

1 comentários:

Pôncio Vileda disse...

Lindo... Sociologia de ponta.

Sai uma bolsa para esta mesa.