O descapotável
Nos tempos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, a febre revolucionária de esquerda estava ao rubro. Muitos portugueses, saídos de uma ditadura de direita, sonhavam com a patine de uma ditadura do proletariado. O ódio ao capital e aos capitalistas, se já existia, ganhou corpo nessa altura e perdurou até hoje.
Muitos filhos família ainda conservavam alguns sinais recentes de abastança, aventurando-se a sair de casa com o carro, cabelos ao vento. Os comentários variavam, mas não destoavam entre o “burguês” e o “reaccionário”. A resposta vinha então, na cartilha politicamente correcta de então: “- Ando a descapitalizar os meus pais”.
Portugal continua um país pobre, descapitalizado, que cultiva o ódio aos ricos, olha de lado quem cria riqueza, não encoraja os empreendedores, não celebra a iniciativa privada. Muitos olham o Estado como o providenciador natural, alguns até esperam que o Estado lhes faça a riqueza.
Portugal tem hoje 2 milhões de pobres e ainda não percebeu que estaria bem melhor se tivesse 2 milhões de ricos. A riqueza não deve ser motivo de vergonha para um país, só a pobreza o é.
35 anos depois, discute-se a possibilidade de criminalizar o enriquecimento ilícito. Admito que seja um caminho possível para combate ao flagelo da corrupção, mas fico com a impressão de que se trata apenas da criminalização do enriquecimento.
O ilícito aqui vai só à boleia.
2 comentários:
Bem observado.
Posso concluir que seriam esses 2 milhões de ricos a, caridosamente, ajudar os 2 milhões de pobres? é que as duas realidades não só não são incompatíveis, como prováveis dado que o problema da acumulação da riqueza é a sua falta de circulação. Só resta a caridade então...
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