quinta-feira, 21 de maio de 2009

A Constância do Banco de Portugal...


Diz o Jornal «i» que, por lapso, os administradores do Banco de Portugal não receberam durante o ano passado o aumento que lhes era devido e que, por causa disso, o mesmo aconteceu aos corpos directivos das outras Entidades Reguladoras. Como tal, para reparar o mal, as administrações do Banco de Portugal e das ditas Entidades deverão receber este ano um aumento de 5% (2,1% relativo a 2008 e 2,9% relativo a 2009). Parece-me justo, pelo menos em nome do direito de cada um à remuneração devida pelo trabalho realizado, coisa que, na nossa civilização, apesar de ser tão maltratada a tradição judaico-cristã, vem sendo defendido desde o livro do Eclesiastes.
A oposição, no entanto, barafusta, dizendo que isto é uma vergonha e que o Governo tem que inverter esta situação, já que de nenhum modo se pode aceitar uns tais aumentos neste terrível tempo de crise em que vivemos. Convenhamos que também têm razão. Segundo ouvi, na TSF, o aumento destes administradores, em alguns casos, representa, por si só, mais de dois ou três salários mínimos. Ora, quando tanta gente não tem aumentos, nem emprego, nem coisa nenhuma, não está certo que os altos quadros da administração pública sejam assim recompensados pelo Governo.
Para além de tudo, não poderá deixar de nos parecer estranho que o Governo, ainda que por lapso, não aumente os ditos gestores quando deve e pode fazê-lo, aumentando-os, no entanto, agora, quando não o pode nem deve. O «Expresso On-Line», talvez por isso, confirmando embora o lapso de 2008 e o prejuízo que isso causou aos dirigentes das várias Entidades Reguladoras, noticiou ao final da tarde o comunicado feito pela administração do Banco de Portugal, no qual afirmam que, contrariando até o disposto na lei, também este ano não receberão qualquer aumento, com o que infirmam o que no jornal «i» e nas rádios se vai dizendo.
Enfim, a confusão está instalada e cada um há-de pensar o que quiser. Fica, no entanto, a pergunta: será que o Sr. Governador do Banco de Portugal não recebe, no fim do mês, um recibo de ordenado, como toda a gente na função pública? Será que não o assina, ficando com uma cópia, na qual pode ler o que recebeu, o que descontou, as despesas de representação e o subsídio de almoço? Então e não reparou que não tinha sido aumentado? E não o reparou durante um ano inteiro? E não sabia que disso dependia a justa remuneração de alguns dos seus pares? E ninguém lhe disse nada? Nenhum dos outros administradores? Nenhum dos seus assessores? Nem o seu motorista?
Ora, a dúvida que nos foi imposta desde o deficit estabelecido por este Banco às contas do Governo de Santana Lopes, depois dos casos do BCP (de que ninguém parece já lembrar-se), do BPN, do BPP, dos estranhos empréstimos da CGD, etc., instalou-se agora definitivamente entre nós. Com efeito, como poderemos nós acreditar que o Banco de Portugal é capaz de exercer o seu papel regulador no mercado financeiro em Portugal, se o Sr. que o dirige não é sequer capaz de controlar o que recebe ao fim do mês?
A questão é grave, porque, na descrença quase total que os portugueses vão tendo relativamente à legitimidade da autoridade dos seus governantes, esta é mais uma instituição pública que vai ficando irremediavelmente manchada. Não podemos estranhar, portanto, que, também em relação a esta Entidade, as pessoas se comecem cada vez mais a perguntar: Afinal, para que serve o Banco de Portugal? Ou: Afinal, a quem serve o Banco de Portugal? Com efeito, é normal que entre nós se instale esta desconfiança, quando a incompetência e o erro parecem ser a única constância do Banco de Portugal.

6 comentários:

Carlos Sério disse...

pobrezinhos, coitados.

Martim Bernardo disse...

a Constância é a Terceira Vaca mais bem paga du Planeta. na classe de Vacas Industriosas.vinha no "i".

Martim Bernardo disse...

mas Portugal não é u Terceiro País Ocidental... algo não está a bater certo ( o "está" presume que possa vir a bater , no futuro...

Alexandra disse...

"Com efeito, como poderemos nós acreditar que o Banco de Portugal é capaz de exercer o seu papel regulador no mercado financeiro em Portugal, se o Sr. que o dirige não é sequer capaz de controlar o que recebe ao fim do mês?"

Estava a pensar exactamente isto ao longo do texto até chegar a esta frase.

Estaremos todos dormentes?...

Anónimo disse...

se por lapso não aumentam o seu proprio ordenado, que mais lapsos não terão estes distraidos? coitados, devem precisar de reforma - mas ai nao se esqueceram de a engordar

mariano disse...

Estou realmente estarrecido com a noticia,mas tenho alguma consideração para com a administração do Banco de Portugal, e principalmente para com o Governador. Devem ter contas em atraso para pagar porque não foram aumentados, as universidades dos filhos e a renda da casa em atraso. Uma vergonha nacional, Vou até mais longe, ao invés de pedirem um aumento de salário o próprio Teixeira dos Santos deveria baixar o salários dos gerentes publicos em 5% para ajudar a combater a crise, incluindo o seu próprio salário.
É uma injustiça muito grande para quem recebe o salário minimo nacional.