JBC... sempre
João Bénard da Costa vai fazer-nos muita falta. Porque morreu um homem maior.
Com João Bénard da Costa parte o testemunho vivido de uma boa parte da nossa história recente. Parte alguém capaz de intervir e de pensar, um homem de cultura, um homem de causas, um homem de valores, um homem de princípios.
O cinema sentirá o vazio que deixa. Mas, muito para além do cinema, é também o seu lugar na sociedade que é insubstituível. Faltará a sua palavra atenta, o seu olhar inteligente. A sua inconfundível voz, pausada pelo peso de um discurso sempre relevante.
João Bénard da Costa era um homem raro. Um homem admirável. E Portugal anda falho de gente susceptível de admiração.
Hoje, ficámos mais pobres, mais tristes, mais órfãos. Por isso, numa ironia plena de sentido, chorar por João Bénard da Costa será também chorar por nós.
7 comentários:
Bem dito !
João Wemans
Não sei se ele deixou indicações sobre o assunto.
Mas gostava de ver um funeral de um nome grande da cultura portuguesa que se assemelhasse a um filme mudo: sem as palmas que agora se dispensam aos mortos.
A Sofia Galvão sintetiza magistralmente o papel que o João Bérnard da Costa desempenhou na nossa sociedade, um homem que vivia e respirava cinema...Um vulto maior da nossa cultura.
A sugestão da Sofia Rocha seria de uma beleza cinematográfica inigualável...
Post lamecha, vulgar, cheio de lugares-comuns - tudo, mas tudo, o que Bénard da Costa desprezava. Substitui-se o nome e tudo aquilo serve na perfeição como obituário de outra qualquer figura de relevo. O cinema fica mais pobre?. Ó santa ignorância! O bom do Bénard era um cinéfilo esclarecido. Não fazia filmes. Compreenda a dr.ª Sofia Galvão que a morte de um leitor não empobrece a Literatura. João Bénard da Costa não merecia tão indigente post. Que melhor homenagem eu lhe posso prestar aqui senão dizer que ele merecia orbituarista mais competente.
As palmas que se dispensam aos mortos não são de agora. A ilustríssima Sofia Rocha nunca leu, por exemplo, uma descrição do funeral de Eça de Queiroz desde o Terreiro do Paço ao Alto de São João?
PS. Se lhe faz espécie o percurso do féretro, explico-lhe o mistério em momento oprtuno. Tenho que ir bater palmas ao Bénard, que ele tem todo o direito a elas.
e aquela coisa da SIC, o mário num sei quantos? vai ter palmas? ele é quarentão, mas mete nojo como um de setenta
João Bénard da Costa disse um dia, que as relações do cinema com a ópera o fascinavam, e enquanto director da Cinemateca dedicou um ciclo, (já lá vão alguns anos), com os filmes que representavam para ele essas relações, que não necessariamente filmes com óperas.
Para além da sua escrita, os ciclos que organizou na Cinemateca, essas relações sempre tão inesperadas, foram, para mim, outra fonte de maravilha.
Ainda não faz um ano, perante um público que enchera a sala grande da Cinemateca, Bénard da Costa apresentava um novo ciclo: “Mulheres Nuas”. “Não julguem” disse-nos, “que vão ver pornografia”. O público riu. Sobre o filme que inaugurava o ciclo - “Psycho” - o último filme a preto e branco de Hitchcock, 1960, Bénard da Costa falou como se todos nós já o tivéssemos visto. Porém, antes da projecção do filme admitiu que se alguém na sala ainda o não tivesse visto, que ele gostaria de ser esse alguém.
Sofia, não posso concordar mais consigo, "João Bénard da Costa vai fazer-nos muita falta".
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