terça-feira, 28 de abril de 2009

Há que "malhar" no "malhador"...



Estamos há muito tempo habituados a ser tratados pelos media como gente estúpida, o que, no que diz respeito a questões políticas, faz com que, por exemplo, sempre que algum político faça um qualquer discurso, tenhamos ente 2 a 5 comentadores, em cada meio de comunicação, a explicar-nos aquilo que ele disse e aquilo que ele não disse, as razões pelas quais o disse e o não disse, e se o fez bem ou se o fez mal.
É claro que este processo está sujeito a desvirtuamentos, que deveriam ser equilibrados pelo bom senso dos comentadores e das audiências. Hoje, porém, instalada a confusão entre políticos e comentadores, acabou-se o equilíbrio e o bom senso, ficando assim a decisão sobre o modo de comunicar entregue, apenas, à quantificação das audiências e, nesta medida, à maior ou menor capacidade de entretenimento dos políticos-comentadores e dos comentadores-políticos.
Quem percebeu isto muito bem foi o actual PS e o seu secretário-geral - e nosso primeiro-ministro -, que deram mais um salto qualitativo, embora para baixo, na maneira de fazer política – e, sobretudo, de comunicá-la – no nosso país. Assim, desde os alinhamentos dos noticiários até às explicações sobre as notícias, tudo é favorecido pela espectacularidade comunicativa do governo e do PS, que entretendo mais as pessoas, consegue mais audiências e, nesse sentido, se diz que faz melhor política (isto, que era há já muito tempo praticado pelo Bloco de Esquerda, só com o PS ganhou a dimensão própria do poder, que o torna especialmente perigoso).
Do outro lado, temos o PSD e Manuela Ferreira Leite, que é diariamente criticada, sobretudo, pela sua imagem. Fala-se dos seus cartazes, da sua roupa, da sua maneira de comunicar, da sua falta de dinamismo, enfim… da maneira como ela aparece aos portugueses. E como a sua imagem, segundo nos dizem, não cativa as audiências, conclui-se, em uníssono, que não serve para primeiro-ministro e que não ganhará as eleições.
Há 15 dias, no Expresso, aparecia mesmo um artigo onde um qualquer publicitário, supostamente especialista na área da comunicação política, criticava Ferreira Leite pelo facto de, nos seus cartazes, usar a palavra “política”, que é algo que hoje não atrai as pessoas e deve, por isso, ser evitado. Ora, tratando-se de um cartaz de um partido político, não deixa de ser extraordinário. A mensagem, portanto, é clara: enganar não faz mal; mentir não faz mal; pecado é não entreter.
É nesse sentido que quero alertar para a maneira como sistematicamente nos são dadas a conhecer as opiniões de Manuela Ferreira Leite: por interposta pessoa, nomeadamente por via do alinhamento noticioso quase sempre garantido pela interpretação que o ministro Augusto Santos Silva faz das palavras de Manuela Ferreira Leite.
Estrategicamente definido, pelas empresas de comunicação do PS, que José Sócrates nunca se deve dirigir directamente a Ferreira Leite, com o objectivo de a desvalorizar a ela e às as suas intervenções, Santos Silva foi o escolhido para, assim que ela acabe de falar, recentrar a discussão em torno, não daquilo que ela disse, mas daquilo que ele disse sobre aquilo que ela disse, ou, na maioria dos casos, não disse. E o ministro, que vê nessa sua própria desvalorização uma oportunidade para o reconhecimento do seu valor, “malha” com gosto na presidente do partido oposto, num espectáculo que tem tido, aliás, algum sucesso.
O facto é que, em inúmeros casos, a maioria das pessoas diz que Manuela Ferreira Leite disse, não o que ela disse, mas o que o ministro disse que ela disse - o que é inclusivamente confirmado quando a própria Ferreira Leite vem depois dizer que não foi aquilo que ela mesma disse, ou quiz dizer, mas uma outra coisa, com o que faz com que até ela e o PSD falem, não do que eles próprios pensam e dizem, mas do que Santos Silva diz que eles dizem e pensam.
Ontem, por exemplo, a líder do PSD deu uma entrevia à SIC. Hoje, a TSF, a meio do seu noticiário, "informava" que a dirigente social-democrata já veio explicar que, nessa entrevista, não disse nem quiz dizer que estava disposta a fazer um governo de bloco central, quando disse aquelas palavras na entrevista – que então passam via rádio –, as quais foram, no entanto, assim interpretadas pelo ministro Augusto Santos Silva, que, para além disso, acha ainda que a presidente do PSD é incoerente e demagógica e isto e aquilo – passam então as palavras do ministro Santos Silva –, coisas que ficam - e permanecerão - no ar enquanto se passa para à próxima notícia.
Conclusão? Só esta: Parece claro que o país prefere José Sócrates para tempos de campanha eleitoral e Manuela Ferreira Leite para governar o país. Infelizmente as pessoas vêm sendo convencidas a votar de acordo com a capacidade que um político tem de fazer campanha. Por isso, talvez Manuela Ferreira Leite devesse, sem nunca deixar de escrever “política” nos seus cartazes e de procurar a "verdade" nos seus discursos e acções, prestar alguma atenção ao que se passa nos media, mandando alguém, com patente inferior à sua, “malhar” também em Santos Silva, logo a seguir à entrevista (até pode ser antes de ele falar), pelo facto de ele não prerceber o que ela disse.

2 comentários:

Redonda disse...

Boa malha!

Ricardo Alves Gomes disse...

Pois... está tudo certo. Só que não é à Dra. Ferreira Leite que cabe o papel de comentar oficiosamente o comentador oficial do regime. Isso seria o que mais convém ao Eng. Sócrates.
Donde, MFL carece de um bom "malhador".
Não haverá um, que seja, na S.Caetano?
Procure no "Geração de 60" e talvez encontre algum(a)...