Uma "Quadratura do Círculo" empírica III
No dia 18 de Fevereiro, a líder do PSD, apresentou no Novohotel em Setúbal um pacote de vinte medidas para as PME.
Vi chegarem os jornalistas dos jornais e das televisões, e depois os políticos. Pareceu-me um ambiente distendido e informal aquele do bar do hotel, todos se conheciam e falavam entre si.
Numa sala não muito grande, sentei-me. Ao meu lado sentou-se um jornalista, que reconheci por apresentar noticiários, de uma estação de televisão.
Depois de todos estarem nos seus lugares, e já a Dra. Manuela Fereira Leite discursava, vi ser distribuido um documento com várias páginas sobre o tema que estava a ser apresentado.
À medida que falava, o jornalista ía lendo o documento e sublinhando certas passagens no texto e dialogando com o técnico que o acompanhava e que filmava.
Já na parte final da intervenção, foram apresentadas medidas especificamente pensadas para a aquisição de bens e serviços pelo Estado e da solução então proposta de criar uma quota para as PME, ou seja que sempre que o Estado adquirisse bens ou serviços, uma parte fosse sempre adquirida às PME. Coisa que não sucede actualmente em que estas têm acesso escasso a esse mercado, desde logo porque desconhecem as regras de funcionamento do mesmo. Situação que se inverteria se soubessem que poderiam ser efectivamente fornecedoras do Estado.
Foram apresentadas vinte medidas. Algumas não conhecia, a outras não lhe conheço o impacto, nem os estudos em que se basearam. Também porque não tenho formação específica na área económica que me permita perceber o alcance de todas.Todavia as medidas que dizem respeito ao acesso das PME ao mercado público são necessárias e já estão a ser tomadas noutros países europeus.
No entanto, o jornalista ao meu lado deu ordens expressas ao camera para não filmar essa parte final da intervenção.
Voltei para casa e assisti aos noticiários das 20.00. Um fez o elenco das medidas, outro convidou um economista para discutir a bondade das propostas.
O noticiário do canal do jornalista referido, colocou no ar uma peça, narrada em off.
O conteúdo foi o seguinte: a líder do PSD sugeria a abolição do PEC que havia sido da sua autoria (e nem mais uma palavra sobre as medidas).
Quanto à forma,filmaram o documento e a voz off do jornalista disse: "20 medidas que poderão nunca saír do papel".
Pergunto ao jornalista:
Entendeu todas as medidas?
Como fez a triagem das mesmas?
Deve o jornalista dizer das medidas propostas "poderão nunca saír do papel"?
Porque é que o diz?
Porque acha que o PSD não vai ganhar as eleições?
Porque acha que a uns meses das eleições, não é possível que o Governo entenda aplicar alguma dessas medidas?
Ou simplesmente não acredita em nada do que um líder político diga?
Se for este o caso, deverá terminar qualquer peça, entrevista ou apresentação política, de um líder, PM, ou PR comentando "poderá nunca saír do papel".
Pergunto aos partidos políticos:
Fará sentido fazer uma apresentação a meios de comunicação generalistas, que pressupõe conhecimentos técnicos especializados e tempo de estudo, a duas horas dos jornais da noite?
Como deve um partido comunicar as suas ideias e propostas, nomeadamente as mais técnicas?
Se o fizer aos canais generalistas deve ter preocupações acrescidas?
Deve simplificar o discurso?
Nesse caso, não cairá no simplismo?
Pergunto aos Media:
Não estaremos a assistir a uma generalização extrema da profissão?
Não deveria existir maior especialização por temas?
Mesmo tendo abandonado o dogma da objectividade, poderá um jornalista, nessa condição, caír no mais puro subjectivismo?
Em Portugal parece que todos podem ser políticos ou jornalistas. Parece que ambas as actividades se baseiam no mais puro casuísmo. Assentes no "bitaite", no "achismo",e veiculadas na net e nas novas redes sociais.
Se assim for, ficam a perder o público em geral e os bons políticos e jornalistas que ainda há.
3 comentários:
Por estas e por outras, é que MFL diz que não é ouvida. Não é, porque os jornalistas incompetentes/estações "compradas" não querem fazer passar a mensagem do PSD,... fazem, isso sim, passar a mensagem que lhes convém.
Enfim... e ainda chamam a isto comunicação SOCIAL ????
Cara Sofia Rocha,
Lamento, mas não compro a desculpa do jornalista incompetente. Temo-los incompetentes e competentes. Temo-los pró-governo e anti-governo (leia os editoriais do Público, por exemplo). A MFL é responsável pela sua qualidade liderança. Se quer procurar bodes expiatórios procure dentro do próprio PSD. Quanto às medidas, também as conheço. Algumas têm mérito, outras nem por isso, todas estão contidas num documento intitulado "Eleições 2009" (disponível no site do PSD). Para mim o objectivo das medidas é claro...
Um abraço e parabéns pelo blog.
As 20 medidas da Dr.ª Manuela Ferreira Leite paras as 'piquenas' e médias empresas já são conhecidas - mesmo antes dessa apresentação formal em Setúbal. Todos os canais de TV e os jornais falaram desses 20 mandamentos salvíficos para as 'piquenas' e médias empresas.
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