domingo, 8 de março de 2009

Homofobia?


Fui ver Sean Penn em Milk. O Óscar confirma todos os superlativos positivos sobre o actor pelo que me dispenso de considerações artísticas.
O que me traz à antena é a relação de heterosexuais com a realidade das pessoas que gostam do mesmo sexo.
Desde cedo tive uma atitude prática, não homofóbica, que me levou a ter pela vida sexual dos homosexuais a mesma curiosidade que teria pela intimidade de Pais ou irmãos, isto é: nenhuma curiosidade. Apliquei este expediente - embora menos - à generalidade da espécie humana. A cama dos outros, é dos outros.
Vários bons amigos e conhecidos homosexuais, com quem fui privando, só me deram razão pelo respeito que impõem à sua privacidade. Tirando os desfiles Gay, a que assisti em Washington, não me lembro de ter sentido qualquer repulsa por esse campo. E talvez esta pacatez me tenha afastado civicamente de qualquer tomada de posição política ou religiosa sobre um assunto que «não era meu».
Mas a discussão do Prós-e-Contras sobre o casamento de homosexuais, na sequência do futuro Programa eleitoral de José Sócrates, e o «Milk» agora, obrigam-me a pensar sobre esta realidade que não deixa de ser da minha comunidade. E, no entanto, o desinteresse instala-se com a eficácia de um bom repelente.
Será homofóbica ou apenas heterosexual a aversão que senti em relação aos poucos beijos do Milk, entre homens?
Será insensibilidade cívica não querer saber dos detalhes da vida íntima / social / oficial dos casais homosexuais?
Será niilismo deixar decidir em Referendo a possibilidade do casamento entre homosexuais?
Será uma tentação politicamente correcta considerar que o Milk reporta à conquista de uma revolução na Califórnia e no Mundo?
Não é preciso ser deficiente, preto, mulher, imigrante, velho ou ex-presidiário para se ser solidário com cada uma destas pessoas em situação de discriminação. Porquê a estranheza com os homosexuais?
Talvez ache que não precisam de ser protegidos porque a sua intimidade não nos diz respeito.

8 comentários:

Anónimo disse...

"Trás"? do verbo trazer é com z...

Inez Dentinho disse...

Obrigada Lusibero. Tem toda a razão.

Anónimo disse...

A Inez é uma insensível - uma insensível cívica, que se está borrifando para os detalhes da vida íntima dos casais homossexuais (aproveito para lhe dizer que as palvaras homossexual e heterossexual levam ss). Se fosse uma mulher sensível e cívica estaria roída de curiosidade pelos detalhes da vida íntima dos homossexuais. Eu, que sou um gajo sensível, já dei por mim a pensar como seria a vida íntima dos homossexuais. Cheguei à conclusão que não será muito diferente da dos outros. Percebe?

Inez Dentinho disse...

Estou sensível a não ser insensível a esse assunto. Por isso expus a minhas interrogações. Em aberto. Em antena consigo. Queira converter-me. Converter-me-ei, se conseguir.
Também estranho esta minha indiferença que nunca afectou, antes pelo contrário, a minha relação com pessoas que gostam do mesmo sexo. Agradeço o seu comentário.

Anónimo disse...

Bela resposta da Inez.

João Wemans

Anónimo disse...

Aperece sempre um cavaleiro, palavra em riste, a defender o intelecto das damas do blogue. A Inez dispensa que se batam por ela. Ainda por cima, com a displicência com que o Wemans o faz: "Bela resposta da Inez", diz ele sem chama. Parece um daqueles advogados oficiosos da Boa Hora que, na altura das alegações finais, não encontra mais nada para dizer que não seja a frase banal: "Peço, senhor doutor juiz, a sua costumada justiça".

Inez,
Você desafia-me a convertê-la. A convertê-la a quê - à homossexualidade, à causa, a quê? Seja para o que for, não conte comigo: o proselitismo incomoda-me.

Inez Dentinho disse...

Conto eu consigo.
As opções íntimas de cada um devem ser respeitadas nessa intimidade. Por isso tenho dificuldade em transformar numa causa cívica a escolha da vida sexual de cada um. Mal comparado, seria como fazer um movimento contra ou a favor das pessoas que têm relações antes ou fora do casamento.
Continuo a pensar que, se praticarmos todos a verdadeira igualdade no trato - isto é: a indiferença em relação a essa diferença - estamos a construir o direito à diferença melhor do que se a considerarmos como tal.
Mas posso estar enganada e admito que há discriminações invisíveis que têm de ser trabalhadas. Diga-me como.
(e peço-lhe que não desconsidere o amável comentário de João Wemans)

Anónimo disse...

Inês,

Concordo consigo da segunda à ante-penúltima linha: subscrevo por baixo. Estou em desacordo em dois pontos do post: não insista em contar comigo - e não lhe posso dizer como 'trabalhar' as descriminações invisíveis. Não lhe posso dizer porque não as conheço, acredite. E como não sei, nem imagino, quais sejam as discriminações invisíveis, a Inês não pode contar comigo para ultrapassar esse desconforto.

(Pensava que a Inez me pedia para não desconsiderar o amável João Wemans. Mas não. O que me pede é para não desconsiderar o amável comentário. Não posso, ainda que seja um pedido da Inez, levar o comentário em grande consideração. Obviamente que a Inez escusava de me pedir para não desconsiderar João Wemans).