domingo, 8 de fevereiro de 2009

Uma semana é muito tempo

Não tenho escrito no blog nos últimos tempos. Tal não se tem devido a desinteresse da minha parte: ao longo destas semanas, escrevi alguns posts “mentalmente”, mas – devido a uma série de compromissos e obrigações – não os pude “converter” para um formato menos virtual.

Embora de forma não-intencional, esta experiência de “não-escrita” acaba por ser reveladora. Dos quatro ou cinco posts que tinha “pensado”, na prática só um ou dois ainda são vagamente interessantes.
Os outros – a entrevista de Sócrates e como esta esvaziou as previsões do Banco de Portugal, anunciadas no dia seguinte; a novelette em torno das datas das eleições; os comentários de D. José Policarpo sobre o Islão; a vitória de Ronaldo e o editorial do Público a descrever Alex Ferguson como um gentleman (só se for na definição de Oscar Wilde: “A true gentleman is one who is never unintentionally rude”) – basicamente perderam, todos eles, a sua relevância.

O que é que isto demonstra? Bem, para começar, estende a aplicabilidade da velha máxima de Harold Wilson que “uma semana é muito tempo em política”. Uma semana é muito tempo na blogoesfera também.

Mas não é só isso. A rápida rotação de temas – ontem a data das eleições, hoje o caso Freeport (e amanhã quase certamente a arbitragem do jogo desta noite…) – também acaba por gerar uma espécie de ‘cegueira inatencional’ colectiva, em que perdemos de vista um tema central ao longo dos últimos oito anos, e que atravessa praticamente os últimos quatro governos: o fraco desempenho da economia nacional. O nosso PIB per capita tem divergido da média europeia sistematicamente desde 2002, e a taxa de desemprego mais do que duplicou desde 2000.

Num momento em que estamos a viver uma crise económica internacional, pode parecer paradoxal sugerir atenção à dimensão nacional. Aliás, a narrativa crescentemente dominante neste momento é que a responsabilidade pelo estado actual da economia nacional deve-se à crise internacional, e as sondagens mais recentes indicam que esta perspectiva tem eco na opinião pública.

Não disputo, obviamente, o efeito da crise internacional sobre a situação económica nacional actual. Contudo, o fraco desempenho económico português não é recente, nem inteiramente explicável por factores exógenos. Ignorarmos as causas domésticas pode ser uma estratégia apelativa a curto prazo, mas acarreta um sério risco: o da crise mundial acabar, e o crescimento nacional continuar débil. As consequências prováveis desse cenário são substanciais, tanto em termos políticos como sociais.

2 comentários:

Unknown disse...

Caro Carlos,
Bom de ler este post, memso. E é mesmo uma coisa muito provável, que a crise lá fora acabe e que a economia portuguesa continue a divergir. E nós sem sabermos bem porquê nem o que fazer para que isso assim não seja. Era mau que depois de tanto tempo a desejar a "Europa" agora que a temos quase a 100% ela não nos traga a almejada prosperidade.

Miguel Poiares Maduro disse...

Valeu a pena esse distanciamento: é importante lembrar que enquanto os outros entraram há pouco em crise nós já estamos em crise há muitos anos...