Uma semana é muito tempo
Não tenho escrito no blog nos últimos tempos. Tal não se tem devido a desinteresse da minha parte: ao longo destas semanas, escrevi alguns posts “mentalmente”, mas – devido a uma série de compromissos e obrigações – não os pude “converter” para um formato menos virtual.
Embora de forma não-intencional, esta experiência de “não-escrita” acaba por ser reveladora. Dos quatro ou cinco posts que tinha “pensado”, na prática só um ou dois ainda são vagamente interessantes.
Embora de forma não-intencional, esta experiência de “não-escrita” acaba por ser reveladora. Dos quatro ou cinco posts que tinha “pensado”, na prática só um ou dois ainda são vagamente interessantes.
Os outros – a entrevista de Sócrates e como esta esvaziou as previsões do Banco de Portugal, anunciadas no dia seguinte; a novelette em torno das datas das eleições; os comentários de D. José Policarpo sobre o Islão; a vitória de Ronaldo e o editorial do Público a descrever Alex Ferguson como um gentleman (só se for na definição de Oscar Wilde: “A true gentleman is one who is never unintentionally rude”) – basicamente perderam, todos eles, a sua relevância.
O que é que isto demonstra? Bem, para começar, estende a aplicabilidade da velha máxima de Harold Wilson que “uma semana é muito tempo em política”. Uma semana é muito tempo na blogoesfera também.
Mas não é só isso. A rápida rotação de temas – ontem a data das eleições, hoje o caso Freeport (e amanhã quase certamente a arbitragem do jogo desta noite…) – também acaba por gerar uma espécie de ‘cegueira inatencional’ colectiva, em que perdemos de vista um tema central ao longo dos últimos oito anos, e que atravessa praticamente os últimos quatro governos: o fraco desempenho da economia nacional. O nosso PIB per capita tem divergido da média europeia sistematicamente desde 2002, e a taxa de desemprego mais do que duplicou desde 2000.
Num momento em que estamos a viver uma crise económica internacional, pode parecer paradoxal sugerir atenção à dimensão nacional. Aliás, a narrativa crescentemente dominante neste momento é que a responsabilidade pelo estado actual da economia nacional deve-se à crise internacional, e as sondagens mais recentes indicam que esta perspectiva tem eco na opinião pública.
Não disputo, obviamente, o efeito da crise internacional sobre a situação económica nacional actual. Contudo, o fraco desempenho económico português não é recente, nem inteiramente explicável por factores exógenos. Ignorarmos as causas domésticas pode ser uma estratégia apelativa a curto prazo, mas acarreta um sério risco: o da crise mundial acabar, e o crescimento nacional continuar débil. As consequências prováveis desse cenário são substanciais, tanto em termos políticos como sociais.
O que é que isto demonstra? Bem, para começar, estende a aplicabilidade da velha máxima de Harold Wilson que “uma semana é muito tempo em política”. Uma semana é muito tempo na blogoesfera também.
Mas não é só isso. A rápida rotação de temas – ontem a data das eleições, hoje o caso Freeport (e amanhã quase certamente a arbitragem do jogo desta noite…) – também acaba por gerar uma espécie de ‘cegueira inatencional’ colectiva, em que perdemos de vista um tema central ao longo dos últimos oito anos, e que atravessa praticamente os últimos quatro governos: o fraco desempenho da economia nacional. O nosso PIB per capita tem divergido da média europeia sistematicamente desde 2002, e a taxa de desemprego mais do que duplicou desde 2000.
Num momento em que estamos a viver uma crise económica internacional, pode parecer paradoxal sugerir atenção à dimensão nacional. Aliás, a narrativa crescentemente dominante neste momento é que a responsabilidade pelo estado actual da economia nacional deve-se à crise internacional, e as sondagens mais recentes indicam que esta perspectiva tem eco na opinião pública.
Não disputo, obviamente, o efeito da crise internacional sobre a situação económica nacional actual. Contudo, o fraco desempenho económico português não é recente, nem inteiramente explicável por factores exógenos. Ignorarmos as causas domésticas pode ser uma estratégia apelativa a curto prazo, mas acarreta um sério risco: o da crise mundial acabar, e o crescimento nacional continuar débil. As consequências prováveis desse cenário são substanciais, tanto em termos políticos como sociais.
3 comentários:
Joe o Canalizador, que afirmou que um voto em Barack Obama era um voto pela morte de Israel, foi enviado como jornalista ao Médio Oriente
Samuel Joseph Wurzelbacher, por alcunha «Joe o Canalizador» (Joe the Plumber) , de 35 anos, ficou conhecido pela pergunta que fez a Barack Obama acerca do plano de impostos do agora Presidente eleito, acusando-o de socialista, um argumento que passou a estar na ordem do dia do lado republicano, para o qual passou a fazer campanha. Tudo isto transformou Joe, de um dia para o outro, numa estrela e herói nacional.
Durante a campanha eleitoral americana, Joe o Canalizador afirmou que um voto em Barack Obama era um voto pela morte de Israel. "Vocês não querem a minha opinião sobre política externa. Eu só sei o suficiente para ser provavelmente perigoso", afirmou em entrevista à Fox News.
O mais famoso canalizador do mundo abandonou as rupturas de lavatórios e as sanitas entupidas para se dedicar a tempo inteiro à política internacional. De tal forma que, contratado pela PajamasTV, viajou para Israel, onde permaneceu 10 dias para cobrir a crise em Gaza e falar com "as pessoas da rua".
Jon Stewart, do Daily Show, mostra-nos uma das primeiras intervenções de Joe o Canalizador em Israel:
Jon Stewart: Este homem enviado como jornalista para o Médio Oriente, deu a sua opinião de tipo normal sobre o jornalismo de guerra.
Joe o Canalizador: Vou ser franco. Os jornalistas não deviam estar perto dos conflitos. Vocês relatam onde estão as nossas tropas. Relatam o que se passa a cada dia. Dão muita importância a isso. Acho uma parvoíce. Agora, toda a gente opina.
Jon Stewart: Sim, toda a gente opina. Sou eu que o digo, Joe o Canalizador. Muito bem Joe. O jornalismo de guerra não presta. Qual é a alternativa?
Joe o Canalizador: Gostava de como era na Primeira e Segunda Guerras Mundiais, quando as pessoas iam ao cinema e viam as tropas no ecrã. Toda a gente ficava empolgada e feliz por elas.
Jon Stewart: Que idade tem? Primeira e Segunda Guerras Mundiais? Sabe, Joe, esses noticiários eram filmes de propaganda. Tinham o seu encanto mas a informação tinha lacunas. Mas continue a pintar a ignorância voluntária. Como uma espécie de virtude refrescante. Para que conste, acho que a Alemanha também teve desses filmes.
[Imagens de um documentário da Alemanha nazi]: Bem-vindos, Alemanha. Lá estão os nossos rapazes de castanho, o orgulho da força de combate da Alemanha. Podem ser o Terceiro Reich mas são os primeiros nos nossos corações. Cuidado, ciganos e homossexuais. Toda a gente está maluca por causa do Führer. Miudinha: "Posso oprimir judeus quando for grande?" Hitler: "Não te preocupes, querida. Estaremos por cá nos próximos mil anos."
Vídeo legendado em português
Caro Carlos,
Bom de ler este post, memso. E é mesmo uma coisa muito provável, que a crise lá fora acabe e que a economia portuguesa continue a divergir. E nós sem sabermos bem porquê nem o que fazer para que isso assim não seja. Era mau que depois de tanto tempo a desejar a "Europa" agora que a temos quase a 100% ela não nos traga a almejada prosperidade.
Valeu a pena esse distanciamento: é importante lembrar que enquanto os outros entraram há pouco em crise nós já estamos em crise há muitos anos...
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