O paradoxo das competências
Nas sociedades desenvolvidas, cresce o abismo entre as competências disponíveis no mercado de trabalho. Mas, pior, com esse abismo surge um novo e nocivo paradoxo: afinal, os menos competentes são os menos aptos para programas de formação e, portanto, aqueles relativamente aos quais a progressão se revela mais improvável. As consequências económicas e sociais são tão evidentes quanto terríveis.
É um verdadeiro círculo vicioso. Enquanto as competências são mais valorizadas do que nunca, milhões continuam sem atingir níveis básicos. E, nesse contexto de profunda desigualdade, as acções de treino e aprendizagem dirigem-se, privilegiadamente, àqueles que já são os mais qualificados.
Cresce assim a polarização das competências e, com ela, o risco de sociedades inevitavelmente menos produtivas e menos justas.
Ora, quem estuda estas problemáticas (ver aqui), sabe bem que, para fazer face à tendência, é urgente definir uma estratégia integrada que intervenha, simultaneamente, no mercado de trabalho, no sistema de formação e no quadro de vida quotidiana dos mais desfavorecidos. Para lá da propaganda e do efeito fácil, se o objectivo for sério, a verdade é que, só agindo nas três frentes, será possível abrir àqueles que mais precisam – e mais merecem – a perspectiva de um futuro melhor.
Num tempo de tantas e tantas dúvidas acerca dos resultados do programa «Novas Oportunidades», talvez valha a pena lembrar algumas coisas simples e essenciais.
2 comentários:
Vários estudos demonstram-no. O paradoxo existe e existe a vários níveis.
1 - As empresas e o Estado, nos sectores que tutela, não entendem a formação como investimento, mas como um custo, a que procuram fugir.
2 - Nas empresas e no Estado, os trabalhadores com maior escolaridade e mais competências, têm sistematicamente mais formação.
3 - Apesar da legislção existente em Portugal, de um mínimo obrigatório anual de horas de formação por trabalhador, ela não é cumprida.
4 - Muito pouca formação é dada aos desempregados que estão inscritos nos centros de emprego e a que é dada é de má qualidade e sem conexão com as necessidades dos trabalhadores e das empresas, não contribuindo para o regresso à actividade.
Mais do que a constatação de um paradoxo, devemos adoptar medidas imediatas para contrariar esse ciclo que não faz mais do que criar um sistema de castas:os proprietários dos saber, e os sem-saber, marginalizados e excluídos.
Coisas simples e essenciais, o de oferecer melhores possibilidades e oportunidades a todos, revela o verdadeiro espírito democrático, e é sem dúvida de louvar.
Julgo no entanto, que cabe ao indivíduo, a decisão no perseguir dos seus próprios objectivos. Lembro, a título de exemplo, que as acções de formação nos centros de emprego, é imposta ao desempregado, que sem outra alternativa, se vê coagido a aceitar, sob pena de lhe ser retirado o subsídio. A imposição de acções políticas sobre o indivíduo, podem conduzir a um grande perigo - à eliminação da liberdade individual.
Existe algum link para o programa “Novas Oportunidades”?
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