Lucrécio e a Gestão
Lucrécio foi um poeta e filósofo latino, de seu nome completo Titus Lucretius Carus, que morreu no ano 55 a.D. e escreveu uma grande obra de inspiração Epicurista chamada “De Rerum Natura”.
Não é deste livro que aqui se fala mas de uma frase, também dele, que diz (mais ou menos) o seguinte:
“Lamento o modo pelo qual aquilo que queremos é escolhido mais por ouvir dizer do que pela evidência dos (nossos) próprios sentidos”.
Vem isto um pouco a (des)propósito de um artigo do Finantial Times, (já com algum tempo mas que agora reli) com o título “Os vencedores têm de ser obsessivos com os factos na sua procura da verdade” (“Winners must be fact obsessed in their pursuit of the truth”).
O autor do texto começa por afirmar que as decisões tendem a ser tomadas com base em informação imperfeita, realidade que se pode considerar trágica até pelos efeitos naturalmente inesperados - e potencialmente negativos - que este tipo de gestão tende a provocar.
Com base neste facto, defende que os “analytics” – o uso rigoroso de dados / informação no planeamento e “modelling” de cada negócio – são hoje a chave para bater a concorrência. É necessário saber “bater as teclas” certas e ter a capacidade (a competência) para interpretar os dados de forma inteligente e actuar de acordo com o que nos diz a informação.
Ainda no mesmo sentido, um Professor americano, Davenport de seu nome, que publicou há tempos um artigo na Harvard Business Review (intitulado “Competing on Analytics”), escreveu que as companhias leaders não sabem só que produtos querem os seus clientes; sabem também os preços que estão dispostos a pagar, quantos itens comprarão ao longo de uma vida e que gatilhos (triggers) farão disparar as (suas) vendas.
Diz ainda que a decisão fundada em factos (fact based decision making) tem de fazer parte da cultura de qualquer empresa devendo ser constantemente enfatizada e comunicada pelos executivos seniores.
Uma boa forma de pôr o conceito em prática é perguntar em face de qualquer questão:
“Pensamos que é assim ou sabemos que assim é?”.
1 comentários:
JP, esse ponto de vista suscita-me algumas dúvidas.
A primeira é como se obtêm esses dados, como se obtém essa certeza, esse grau de pureza?
A segunda, é que na interpretação, em qualquer interpretação, influenciam e muito todas as nossas concepções, juízos prévios e preconceitos.
A terceira, é que hoje, sobretudo desde António Damásio,é difícil não aceitar as componentes emocionais da tomada de decisão.
Se a ciência nos fornece esses dados,sobre a relevância das emoções, temos de as enquadrar da melhor forma possível, em todo o processo decisório.
Sem facilitismos ou exagero, mas também sem medo ou preconceito.
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