segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Back to business as usual?


A incerteza é total, a desorientação quase absoluta. Mas intui-se que a crise – esta crise – mudou o mundo. E mudou-nos com o mundo.

Mudou o quê? E, mais exactamente, mudou como? Isso ninguém sabe muito bem ainda. E Davos falhou precisamente porque nos deixou sem respostas.

"Confiança", "cooperação", "medidas excepcionais para circunstâncias excepcionais". Palavras que, sem mais, dizem pouco. Muito pouco.

No meio das dúvidas, alguém lembrou os sete pecados sociais denunciados por Gandhi: política sem princípios, comércio sem moral, riqueza sem trabalho, educação sem carácter, ciência sem humanidade, prazer sem consciência, religião sem sacrifício… Terá sido isto? E como mudaremos o essencial?

8 comentários:

JP Guimarães disse...

Sofia, não tenho dúvidas de que é mesmo isto. O problema é que, mais uma vez, e na senda do que tem vindo a ser o nosso comportamento, vamos querer encontrar uma qualquer solução económico-financeira complicada (de preferência com efeito imediato) e a verdadeira solução não é passa por aí. Passa por uma mudança de comportamentos que começa, efectivamente, em cada um de nós e que se traduz, na prática, por evitar os tais sete pecados sociais de que fala Gandhi. Claro que se pode sempre argumentar que isto é de uma enorme ingenuidade, que estamos face a mecanismos complexos etc., mas pessoalmente acredito que é mesmo assim.

Gonçalo Pistacchini Moita disse...

Sofia
A questão fundamental, para mim, é justamente essa: como estabelecer (ou melhor, restabelecer) uma relação entre os Gandhis deste mundo e os senhores de Davos? A acção dos Gandhis, não sendo política, deve influenciar a política; as reuniões de Davos, não sendo espirituais, devem espiritualizar-se.
Entretanto, uns e outros devem continuar a trabalhar. Os Gandhis em vista da totalidade da vida de cada um; os Davianos, em vista dos ciclos económicos e eleitorais. O erro, como sempre, está nos absolutos. Nenhuma destas duas acções (temporal e espiritual) o deve ser. Assim se resolverão as crises: esta e as muitas que, se Deus quiser, hão-de vir.

Sofia Rocha disse...

Para os mais desfavorecidos, esta crise só vem tornar a vida cada vez mais difícil até atingir o insuportável.
Ao nível das classes dirigentes, gostava que o ponto a que chegámos, convocasse os melhores, os mais sábios, competentes e gente de boa-vontade,a colaborar e participar na construção de uma sociedade mais livre e justa.
Mesmo contra a maçada, a exigência de uma vida pública e os salários menos atractivos.
Gostava que gente de boa-vontade se sentisse convocada e ouvisse esse apelo colectivo.

Táxi Pluvioso disse...

O ser e o tempo (madrasto).

Madalena Lello disse...

A civilização humana é o homem na sua totalidade: cérebro, coração, alma e corpo.
Sem cérebro, coração e alma a civilização vergou, deixou de ser um dever, uma responsabilidade perante o futuro, reduzida ao corpo, sucumbiu aos prazeres e ao lucro.
Mas será que a crise actual é a crise de toda a civilização humana? Ou estará restrita, a uma elite de inoperantes, que desempenham funções, que só a homens normais (com cérebro, coração, alma e corpo), caberiam?

No século XIX, Davos, tornou-se um destino para os que procuravam tratamento para as doenças pulmonares. No século XXI, Davos, tornou-se o destino dos que procuram tratamento para a doença que criaram - a crise da civilização humana.

Curioso é ver alguém, ligado à política, colocar tantas dúvidas…

Anónimo disse...

Bela radiografia e bela "foto" do problema, este comentário logo aqui por cima, ou não fosse d´alguém especialista em fotografias...
Pois é, falta é gente desta na nossa política, tão cheia - à esquerda e à direita- de incompetentes e corruptos.

Com os melhores cumpts.,
Carlos C. Inez

Madalena Lello disse...

Na conjuntura actual, ter dúvidas, ao invés de certezas absolutas de tantos políticos, é para mim um bom sinal...

Inez Dentinho disse...

Pois é Sofia, agora teremos:
princípios sem políticas;
moral sem comércio;
trabalho sem riqueza;
consciência sem prazer;
e sacrifício sem religião...